Título: BC quer ter dados gerais do microcrédito
Autor: Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 02/06/2005, Finanças, p. C8

Seminário em Salvador discute formas de compilar os desembolsos das entidades não-financeiras

O Banco Central estuda passar a compilar também os dados de instituições não-financeiras que fornecem microcrédito para poder, assim, ter um retrato mais fiel dessa modalidade de empréstimo. Esse deverá ser um dos temas discutidos no "4º Seminário Banco Central sobre Microfinanças", que será realizado hoje e amanhã em Salvador. "O ideal é trazer esses números (para a base de dados do BC)", disse Luiz Edson Feltrin, chefe do Departamento de Organização do Sistema Financeiro da instituição e um dos coordenadores do evento da capital baiana. Boa parte dessas entidades das quais o BC não tem os números são reunidas pela Associação Brasileira dos Dirigentes de Entidades Gestoras e Operadoras de Microcrédito, Crédito Popular Solidário e Entidades Similares (Abcred). Dos cerca de 200 membros da associação, diz Feltrin, o Banco Central não conhece com precisão as informações sobre os desembolsos voltados ao microcrédito de 150 delas. Fazem parte desse grupo instituições como Banco da Família e Banco do Povo, formadas como organizações não-governamentais (ONGs) espalhadas pelo país e ligadas a entidades de classe. Feltrin salienta, entretanto, que, se a idéia vingar, permanecerá não cabendo ao BC a supervisão dessas entidades. O interesse, diz ele, ficará restrito à base de dados. "Queremos montar um mecanismo que não onere essas instituições", disse. Os bancos ainda não atingiram o patamar ideal de desembolsos no microcrédito, segundo levantamento do BC. Entre abril de 2004 e março deste ano, último dado disponível, o conjunto de instituições financeiras emprestou uma média diária de R$ 655,6 milhões, menos da metade do R$ 1,396 bilhão que deveria ter sido emprestado no período. Como punição, os bancos tiveram de recolher compulsoriamente ao BC, em 20 de abril, sem receber remuneração alguma, R$ 751,1 milhões. "Os bancos estão fazendo seus esforços (para aumentar os desembolsos), mas muitos ainda não têm estrutura específica para o microcrédito", diz Feltrin. "Eles precisam aperfeiçoar sua estrutura, melhorar o processo de divulgação (do produto)." O seminário de microfinanças do Banco Central é realizado anualmente. A edição de Salvador tem relevância especial para a indústria porque 2005 foi escolhido pela Organização das Nações Unidas (ONU) como o ano internacional do microcrédito. Participarão do seminário o presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, e o ministro do Desenvolvimento Agrário, Miguel Rosseto.