Título: PIB do primeiro trimestre cresce 0,3% e confirma desaceleração da economia
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Brasil, p. A3

Agropecuária teve alta de 2,6%, mas a indústria caiu 1% e o setor de serviços, 0,2%

A taxa de crescimento do Produto Interno Bruto (PIB) brasileiro no primeiro trimestre, divulgada ontem pelo IBGE, confirmou o que já era esperado: uma desaceleração do ritmo de crescimento econômico. A intensidade, contudo, foi maior que a esperada por muitos analistas. Em relação ao trimestre anterior, descontados os efeitos sazonais, o crescimento foi de apenas 0,3%, o menor desde o segundo trimestre de 2003 (0,1%), ainda no rescaldo da crise provocada pelas eleições de 2002. Na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, o crescimento de 2,9% foi o menor desde o quarto trimestre de 2003 (0,5%). Quando anualizada, como é feito na metodologia de cálculo oficial dos Estados Unidos, a taxa de crescimento do PIB brasileiro em relação ao trimestre anterior está em apenas 1,27% . No Brasil é pouco usual fazer esse cálculo, mas no começo do ano passado o presidente do Banco Central (BC), Henrique Meirelles, insistiu várias vezes que a economia brasileira havia crescido no último trimestre de 2003 a uma taxa anualizada superior a 6%, na época, segundo ele uma das maiores taxas do mundo. A variação positiva contra o trimestre anterior, pela ótica da produção, foi assegurada pela agropecuária, com crescimento de 2,6%. A indústria caiu 1% e os serviços, 0,2%. Pelo ângulo da demanda, as exportações mais uma vez sustentaram o crescimento, com uma taxa positiva de 3,5%. Os investimentos caíram 3%, o consumo das famílias, 0,6%, e o do governo, 0,1%. Ou seja, o desempenho foi negativo em todos os componentes da demanda doméstica. "É o primeiro trimestre em que isso ocorre desde o terceiro trimestre de 2001, quando houve o racionamento de energia elétrica", ressalta a análise do Departamento de Pesquisas e Estudos Econômicos do Bradesco. Na comparação com o mesmo trimestre de 2004 a economia cresceu 2,9%, abaixo do crescimento de mais de 4% verificado por quatro trimestres consecutivos. A indústria cresceu 3,1%, mas há quatro trimestres ela não crescia abaixo de 5,5%. A indústria de transformação vinha crescendo acima de 7% desde o primeiro trimestre de 2004 e agora cresceu apenas 3,6%. A construção, principalmente, que crescera 5,9% e 5,7% no terceiro e no quarto trimestres do ano passado, respectivamente, cresceu apenas 0,6% nos três primeiros meses deste ano em relação ao mesmo período do ano passado. Mesmo a agropecuária, um dos destaques da economia do país nos últimos anos, teve nos 4,2% do primeiro trimestre deste ano seu pior desempenho em relação ao mesmo período do ano anterior desde os 2,1% do quarto trimestre de 2000. Entre os serviços, que cresceram 2%, o destaque negativo foi o setor de comunicações, com retração de 3,2%. "A gente teve, realmente, uma desaceleração do crescimento no primeiro trimestre deste ano", resume Rebeca Palis, gerente do PIB Trimestral do IBGE. Ao comentar o mau resultado da construção civil ela disse que "as taxas de juros (elevadas) alguma hora têm efeito e a construção civil depende muito de crédito". Para o economista Guilherme Maia, da consultoria Tendências, em que pese ser correto ponderar que o aumento dos juros no mês passado (0,25 ponto percentual) já foi excessivo, de um modo geral o uso da política monetária para controlar a inflação está correto, embora pudesse ser complementado por uma política fiscal (pelo lado do controle dos gastos) mais efetiva. A última estimativa da Tendências era de crescimento de 0,4% do PIB em relação ao trimestre anterior e de 3,6% sobre o mesmo trimestre do ano passado. Paulo Levy, diretor de Estudos Macroeconômicos do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea), disse que "a perspectiva (para o PIB) continua sendo de uma desaceleração transitória", decorrente da necessidade de forçar a inflação para "uma trajetória declinante". Para ele, "a desaceleração era inevitável porque o ritmo de crescimento não parecia sustentável, dado que não se investia há muito tempo". Apesar da análise moderada, o Ipea deverá rever para baixo sua expectativa de crescimento econômico em 2005, que era de 3,5%. O analista Alex Agostini, da consultoria GRC Visão, disse que a persistir o quadro atual "dificilmente o crescimento do PIB vai chegar a 3% neste ano". Para ele, "a taxa de juros define tudo na economia". Na sua avaliação, a escalada da taxa de juros desde setembro do ano passado (subiu de 16% para 19,75% ao ano) já fez efeito, mas ainda terá reflexos danosos no futuro. Já a análise do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi) é mais enfática. Ela considera que os números divulgados ontem denotam que "a economia está estagnada e precisa de reorientação da política econômica".