Título: Investimento em queda é o dado mais negativo
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Brasil, p. A3

A queda de 3% na taxa de investimento, em relação ao trimestre anterior, foi, na avaliação geral dos especialistas, o dado negativo de maior destaque na divulgação do PIB do primeiro trimestre. A queda ocorre pelo segundo trimestre consecutivo. No quarto trimestre de 2004, ela havia sido ainda maior, de 3,9%. O temor generalizado é que o freio nos investimentos possa comprometer a oferta futura de produtos, prejudicando a sustentabilidade do crescimento econômico. Mesmo na comparação com o mesmo trimestre do ano anterior, a Formação Bruta de Capital Fixo (FBCF), expressão técnica que define os investimentos, cresceu apenas 2,3%, ante 7,5%, 11,5% e 10,9%, respectivamente, no segundo, terceiro e quarto trimestre do ano passado, pela mesma forma de comparação. "Com essa taxa de juros (19,75% ao ano, a taxa básica), no mínimo a decisão de investimento é postergada. Isso é o 'bê-á-bá' de economia", disse Roberto Olinto, coordenador de contas nacionais do IBGE. Para Olinto, o Banco Central sabe que, ao elevar os juros, está levando os empresários a esperar que as taxas se reduzam para tomar decisões de investimento. "Até para esperar o momento de se financiarem mais barato", ressaltou o executivo. Segundo Rebeca Palis, gerente do PIB trimestral do IBGE, os investimentos vinham com uma média de crescimento de 14% nos três trimestres anteriores, na comparação com períodos iguais, até crescer apenas 2,3% no primeiro trimestre deste ano. "Realmente, é um absurdo, basta olhar os trimestres anteriores", disse. Segundo Rebeca, a construção civil, que responde por 60% da formação bruta de capital fixo, foi o fator preponderante para a queda dos investimentos. "O que se discute no Comitê de Política Monetária (Copom) do Banco Central é que a economia não suporta crescer mais de 3,5% por causa dos gargalos provocados pela carência de investimentos. Então, se a formação bruta de capital fixo cai é um dado muito ruim", disse o economista João Sabóia, diretor do Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ). Para Sabóia, "o governo conseguiu (com a política monetária) reverter as expectativas positivas dos empresários", levando-os a segurar suas decisões de investir. "Eles dizem que não é possível crescer por causa dos gargalos e estão dificultando a eliminação desses gargalos", criticou. Alex Agostini, da GRC Visão, vai na mesma linha. "Você vai investir em dúvida sobre se vai ganhar? O empresário tinha uma expectativa, positiva, que a subida dos juros (no final do ano passado) era transitória. Só que o tempo foi piorando e o céu de brigadeiro foi ficando cinza e carregado. Nessa hora, todo mundo sai de capa e guarda-chuva, a cautela toma conta", avalia o economista. O economista Guilherme Maia, da consultoria Tendências, mesmo concordando, de forma geral, com a política do BC, concorda que a queda nos investimentos "foi a pior notícia para a política monetária". Segundo ele, o dado aumenta a probabilidade que o BC opte pela manutenção da taxa de 19,75% agora em junho, em vez de fazer um novo aumento. O diretor de estudos macroeconômicos do Ipea, Paulo Levy, disse que a queda dos investimentos pode não ser geral, mas influenciada por dois aspectos: na construção, pela formação de estoques de produtos siderúrgicos (vergalhões etc. ) à espera de mudança de preços, e na área de máquinas e equipamentos, com a queda da demanda no setor agrícola. (CS)