Título: Crescimento muda de perfil e será maior ao longo do ano
Autor: Raquel Salgado e Raquel Landim
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Brasil, p. A4

Economistas esperam recuperação do consumo interno

Na avaliação de economistas, a economia retomou o rumo do crescimento ao longo deste segundo trimestre. A perspectiva é de um ritmo entre 1% e 1,4% superior ao do primeiro trimestre. com os três meses anteriores. O perfil desse crescimento, no entanto, vai mudar. O consumo das famílias e o investimento devem encabeçar a recuperação do Produto Interno Bruto (PIB), enquanto as exportações e o setor agrícola irão perder participação. O desempenho do primeiro trimestre, avaliam os economistas, foi o pior do ano e não irá se repetir. De acordo com Bráulio Borges, da LCA Consultores, a tendência de agora em diante é que o governo faça uma política fiscal expansionista, após acumular um superávit de 5% nos últimos 12 meses terminados em abril. Como a meta é de 4,25%, o governo tem gordura para queimar. Com isso, o economista espera aumento do gasto federal em infra-estrutura, o que traria novo fôlego aos investimentos. Do lado do setor privado, Borges ressalta que 60% das empresas consultadas na sondagem da Fundação Getúlio Vargas (FGV) planejam aumentar investimentos em máquinas e equipamentos. Guilherme Maia, da Tendências Consultoria, engrossa o coro dos que acreditam que o cenário de retração do investimento no começo deste ano, puxado pela construção civil e pela queda da produção de bens de capital agrícola, não deve se repetir. "Existem planos de investimentos pesados em infra-estrutura e em setores como o aço. Esse quadro não mudou", afirma. Outro indicador que deve contribuir para uma elevação maior no PIB é o consumo das famílias. A demanda interna será estimulada pela continuidade do aquecimento do mercado de trabalho, pela massa salarial em crescimento e pela injeção de algo entre R$ 13 bilhões e 18 bilhões na economia, devido ao reajuste do salário mínimo. "Neste começo de ano, investimentos (com destaque para construção civil) e consumo das famílias puxaram o PIB para baixo. A expectativa é de uma inversão nos próximos meses, com esses fatores agindo de forma positiva", diz Borges. A agricultura, entretanto, que tanto ajudou o desempenho do primeiro trimestre, não vai mais se comportar tão bem. A quebra de safra da colheita de soja e milho no Sul do país ainda não foi captada no cálculo do primeiro trimestre. Mais da metade da safra da soja, 55,6%, e 48% da colheita do milho só vão ser contabilizadas a partir do segundo trimestre, explica Johan Soza, da Rosenberg & Associados. Por outro lado, haverá a safra de café e cana, culturas que devem apresentar resultados bons, mas não suficientes para impulsionar a agricultura como um todo. Os indicadores de nível de atividade disponíveis até abril ainda não são conclusivos, mas indicam que a produção da indústria de transformação, por exemplo, deverá ficar próxima da estabilidade em relação a março, segundo economistas ouvidos pelo Valor. Pelos dados com ajuste sazonal, o fluxo de transporte pedagiado cresceu 1,2% entre março e abril, enquanto o consumo de energia teve leve alta de 0,7%, a produção de cimento avançou 2,6% e a de papelão ondulado subiu 2%. O emprego formal também cresceu, com um saldo de 266 mil vagas em abril e de quase 80 mil só na indústria. O dado pouco animador foi o da entrega de aço pelas usinas, que cedeu 13% em abril e deve voltar a cair entre 8% e 10% em maio, devido aos altos estoques das indústrias. Apesar das expectativas menos pessimistas para o próximo trimestre, os economistas revêem para baixo os números para o PIB em 2005. A LCA alterou a projeção de 4,1% para 3,6%. A Tendências projetava alta de 3,5% e também irá revisar o dado. A Rosenberg, que já estava com uma projeção mais tímida para o PIB - 3% - não fará revisão, mas admite que essa variação só será alcançada se a demanda interna continuar a apresentar um bom desempenho. Dos 3%, Johan Soza, espera que 2,6% sejam contribuição do mercado doméstico e apenas 0,4% virá do setor externo (saldo entre exportações e importações). Ele ressalta que os efeitos da apreciação cambial vão chegar nas exportações. De olho na recente desaceleração das vendas internas e no aumento das importações, Borges alterou a projeção do quantum de exportação no resultado final do PIB de 9,2% para 8,7%. Por outro lado, o quantum das importações foi de 13,1% para 13,8%. Ele espera uma contribuição negativa (menos 0,1%) do setor externo no ano. Mônica Baer, da MB Associados, tem uma visão mais cautelosa e ressalta que os sinais da política monetária são de desaceleração. "A demanda interna deveria estar puxando o crescimento da economia. E os dados do primeiro trimestre revelam o contrário", diz. "Se você soma isso com juro alto e câmbio mais baixo, a situação deve se aprofundar". Para Mônica, a maior preocupação é a economia em 2006. Ela acredita que o câmbio valorizado afetará as exportações no próximo ano, reduzindo a contribuição do setor externo no PIB.