Título: Para setor têxtil, 2º tri será pior
Autor: Vanessa Jurgenfeld
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Brasil, p. A4

Os empresários do setor têxtil dizem que, depois de um primeiro trimestre fraco, não há grandes expectativas em relação ao segundo. Reunidos na Texfair, feira têxtil que acontece até sexta-feira em Blumenau (SC), alguns industriais afirmam que já reviram as metas de exportação do ano e já há quem preveja que não haverá crescimento em 2005. O presidente da Buettner, João Henrique Marchewsky , diz esperar um decréscimo da receita de 2005 em relação a 2004, em percentual ainda não estimado. Ele explica que as exportações desde o primeiro trimestre vêm ocorrendo sem rentabilidade. Com praticamente metade das vendas destinadas ao exterior, a empresa já reduziu a produção em 8% no primeiro trimestre em comparação com os primeiros três meses de 2004. "Não estamos conseguindo repassar aumento de custos internos, como salários, energia e impostos", conta Marchewsky. O presidente da Associação Brasileira da Indústria Têxtil e de Confecção (Abit) e da Coteminas, Josué Gomes da Silva, reuniu-se na segunda-feira à noite com os empresários do Vale do Itajaí e disse que o tom não é ainda de crise, mas de desabafo. "As condições que o país oferece hoje, não só para o setor têxtil, mas como para parte do setor industrial, não são favoráveis", afirmou. Segundo ele, não há nada que o faça enxergar melhora no segundo trimestre. "Provavelmente, os números do setor industrial serão piores do que no primeiro". A estimativa dos empresários têxteis é que o câmbio feche o segundo trimestre na média de R$ 2,40, abaixo da média de R$ 2,60 registrada nos primeiros três meses do ano e o setor sofra ainda mais. "O ano está mais difícil do que foi 2004", disse Quilian Rausch, diretor de vendas da Altenburg. Rausch explica que as vendas da Altenburg ficaram estáveis no primeiro trimestre e aumentaram apenas 7% entre abril e maio, com alguma melhora devido à busca de mercados menores dentro do próprio país. O executivo diz que a empresa já revisou as metas de exportação para o ano. Esperava 40% de crescimento em 2005, mas agora a meta é um incremento de 20%. Além da dificuldade nas exportações, o setor reclama da política de juros altos, que está freando o consumo no mercado nacional. "Há falta de dinheiro no mercado. É preocupante o panorama futuro", diz o presidente da Altenburg, Rui Altenburg. A Döhler, com sede em Joinville, em recente balanço enviado à Comissão de Valores Mobiliários (CVM), informou que, por conta das condições de mercado, demitiu funcionários no primeiro trimestre, mas ainda não foi uma redução significativa (200 funcionários). A empresa reitera que, se a situação não melhorar, novos cortes deverão ser feitos. O presidente da Buettner diz que a companhia também já analisa cortes. "Estamos perdendo negócios e o enxugamento do quadro poderá ser inevitável." Embora o preço do algodão tenha baixado desde o início do ano, os empresários afirmam que o benefício disso foi pouco, porque o algodão representa apenas 30% do custo da produção. "O câmbio deveria estar em R$ 2,80", diz Marchewsky. Sobre a invasão dos chineses, o presidente da Abit diz aguardar a publicação da regulamentação sobre as salvaguardas aos produtos têxteis. Para Marchewsky, o problema não são os chineses, mas a política do governo brasileiro.