Título: Governo brasileiro crê em aproximação maior
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Internacional, p. A9

A nomeação de Dominique de Villepin aumenta a grande proximidade do governo Chirac com o governo de Luiz Inácio Lula da Silva. Villepin é considerado um "amigo" pelo chanceler Celso Amorim. Um aliado em questões consideradas de alta prioridade no Itamaraty, como a Iniciativa Mundial contra a Fome promovida por Lula - com Chirac como co-patrocinador - e a campanha do Brasil por um assento permanente no Conselho de Segurança da ONU. Ironicamente, pode-se atribuir aos EUA tanto a aproximação de Lula com Chirac quanto a de Amorim com De Villepin: foi na crise que resultou na invasão do Iraque por tropas americanas que os presidentes e seus chanceleres estreitaram contato, e forjaram a amizade que fazem questão de anunciar. Chirac conquistou Lula definitivamente em um dos telefonemas, durante a crise do Iraque, logo no início do governo, quando estimulou o brasileiro a se pronunciar sobre o Iraque. "Sua palavra é importante, o senhor é uma consciência moral da humanidade", disse o francês, grandiloqüente. Foi por De Villepin que Amorim colheu, dias depois, ainda em 2003, uma das primeiras manifestações públicas de apoio às pretensões do Brasil ao assento no Conselho de Segurança da ONU. Eles conversam habitualmente por telefone. Lula já teve quase uma dezena de encontros com Chirac, grande parte com a presença de Villepin. Diferentemente da afirmação de Chirac aos colaboradores, de que ambos só são separados por uma folha fina, de papel de cigarro, Lula costuma brincar com o presidente da França afirmando que só os subsídios agrícolas afastam um do outro, e que espera um dia mudar a posição do amigo. O bom relacionamento de Villepin e Amorim não evitou que o francês comandasse uma ação internacional que estremeceu a relação dos dois países. Por ordem do ministro francês, um avião militar do país tripulado por agentes do serviço secreto pousou em Manaus, a pretexto de uma missão "médico-humanitária", com o objetivo real de resgatar das Farc (guerrilha da Colômbia) a ex-candidata presidencial colombiana, Ingrid Bettancourt, de nacionalidade franco-colombiana e amiga de Villepin. A revelação da missão militar, não informada a Amorim por Villepin no encontro que tiveram dias antes, levou o governo brasileiro a expulsar o avião francês e exigir pedido de desculpas - concedido pelo governo Chirac em uma linguagem vaga, mas considerada aceitável por Lula.