Título: Villepin é nomeado premiê da França
Autor: Agências internacionais
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Internacional, p. A9

Chirac promete mobilização nacional contra desemprego e chama o rival Sarkozy para gabinete

Apenas dois dias após os franceses terem dito não à Constituição da União Européia e colocado o bloco em suspense, o presidente Jacques Chirac apresentou Dominique de Villepin, 51, como novo premiê e Nicolas Sarkozy como ministro de Estado, dando a eles a responsabilidade de restaurar a unidade nacional e de lutar contra o desemprego. A notícia foi mal recebida pelo mercado, economistas e políticos - aliados e opositores ao governo Chirac. Ontem, o euro caiu 1%, a maior queda em um dia desde janeiro. Fechou a US$ 1,235. O presidente defendeu o "modelo francês" e disse que a criação de empregos será a "prioridade do governo, que exige uma mobilização nacional". O desemprego em abril bateu 10,2%. Alguns analistas crêem que as posições de Villepin quando chanceler, ocasião em que foi voz contrária à guerra no Iraque, devem criar atritos com Washington. "Não creio que vá ser tão bem aceito pelos EUA", disse o analista político Guillaume Parmentier. "É óbvio que os neoconservadores ficarão agitados." "Ele personificou a política francesa durante aquele período [pré-guerra no Iraque] e era o homem na ONU que causava todo tipo de problemas aos EUA", disse Alasdair Murray, vice-diretor do Centro pela Reforma Européia, de Londres. A oposição francesa diz que Villepin é uma cara velha do círculo de Chirac e que está mais familiarizado com os salões parisienses do que com a realidade do país, não estando preparado para implementar reformas importantes para fazer o país crescer de forma mais estável, criando empregos. Villepin "não vai exatamente virar uma página" em termos de política econômica, disse Adrian Schmidt, estrategista monetário do Royal Bank of Scotland. "Vai ser mais do mesmo. Não há razão para ver a troca como positiva." Para Dominique Barbet, economista do BNP Paribas, a escolha de Villepin mostra que Chirac "quer dar um tom mais social às ações de governo". "O novo premiê parece estar lá para preparar o país para que o presidente candidate-se a um novo mandato em 2007." A extrema-direita, que compunha a base de apoio ao governo, disse que não participará do novo governo. Os Verdes, por outro lado, acusam Chirac de não ter "entendido a mensagem" passada pelo referendo sobre a Constituição. Economistas dizem que Villepin manterá o status quo e não fará reformas com urgência. Chirac nomeou Villepin depois de o premiê Jean-Pierre Raffarin renunciar, atingido pela impopularidade e pela rejeição da Carta européia. Essa rejeição foi vista também como um reflexo da insatisfação com o governo. A volta de Sarkozy, 50, se dá poucos meses depois de ele ter sido forçado por Chirac a escolher entre o Ministério das Finanças e a presidência do partido. A opção de Sarkozy, escolhendo renunciar do cargo de ministro, foi vista então como uma manobra para poder se apresentar como candidato a presidente em 2007. Com o enfraquecimento de Chirac, Sarkozy conseguiu voltar ao gabinete sem ter de deixar a posição partidária. Hoje os holandeses vão às urnas dizer sim ou não à Carta da UE. Pesquisa feita ontem pelo Centro Holandês de Participação Política apontava que 53,2% dos entrevistados pretendem rejeitar o texto.