Título: Alckmin é derrotado mais uma vez na Assembléia
Autor: Mônica Izaguirre
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Especial, p. A12

O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), sofreu outro revés do PFL, ao perder o comando da relatoria da Lei de Diretrizes Orçamentárias (LDO), responsável pela determinação das prioridades e investimentos do Estado no próximo ano. O relator Edmir Chedid, líder do PFL na Assembléia Legislativa, foi definido na semana passada para ocupar o lugar onde o tucano Roberto Engler ficou por oito anos. O pefelista recebeu ontem as 3.775 emendas feitas pelos parlamentares, que ao contrário dos outros anos, pretendem "regionalizar" o Orçamento. O governo ainda tem maioria e conseguiu aprovar a privatização da CTEEP, empresa do setor elétrico, mas a oposição está satisfeita com a derrota. A comissão, composta por membros do PT, PSDB, PFL, PTB, PMDB, PPS e PV, anunciou a escolha na semana passada, depois que Alckmin fez uma pequena reforma em seu secretariado, para acomodar melhor os partidos da base aliada, já visando sua candidatura em 2006. Com o novo relator, os deputados pretendem incorporar emendas paroquiais, antes barradas por Engler. "Havia a tradição de o governo ter tanto a presidência da Casa quanto o relator da LDO. A comissão quebrou o relatório premeditado que existia antes. Isso foi construído com a eleição da nova mesa, que culminou com a eleição de Rodrigo", diz Enio Tatto (PT), vice-presidente da comissão. "Os parlamentares não conseguiam colocar emendas. Havia um grau de descontentamento. Da forma que era, a LDO era um cheque em branco ao governador". Colega de bancada de Tatto, o petista Mario Reali completa: "Vamos tentar mudar a dinâmica de aprovação das emendas, para regionalizar o orçamento. O que não pode ser é um documento burocrático do Executivo, apenas para cumprir tabela." Presidente da Comissão de Finanças e Orçamento e responsável pela nomeação de um membro de seu partido para a relatoria, o deputado José Caldini Crespo, garante que teve consenso em sua decisão e evita brigas diretas com o governo. "Não é que não apoiamos o governo. Nós somos governo. Temos o vice, Cláudio Lembo". O pefelista garante mudanças na forma de negociação com os deputados. "Vamos ouvir a opinião dos parlamentares. Antes era um rolo compressor, o governo não dialogava." E ser "ouvido" é a intenção da oposição, composta em sua maioria pelos 23 deputados do PT. "Queremos assegurar investimentos nas regiões onde os deputados foram eleitos, mas não para servir de toma-lá-da-cá, de atender um deputado para conseguir aprovar um projeto", diz Tatto. A discussão dos parlamentares sobre a LDO deve acabar até o dia 30 de junho, quando começa o recesso. O projeto LDO prevê superávit primário de R$ 3,8 bilhões para 2006 , com receita fiscal de R$ 74,25 bilhões e é a base para o Orçamento, que deve ser encaminhado no segundo semestre. Para o ano eleitoral , o governo prevê investimentos em 2006 nos mesmos patamares de 2005 - R$ 7,5 bilhões. A disposição de Rodrigo Garcia em contrariar o PSDB tem animado a oposição, que tenta instalar CPIs que podem comprometer o governo tucano. Garcia poderá levar a plenário a CPI Ambiental, que pretende investigar obras como o aprofundamento da calha do rio Tietê (que não evitaram a enchente da semana passada). Poderá instalar também a CPI do Rodoanel e da Febem, sendo esta o calcanhar de Aquiles da gestão e servir de munição contra o governador Alckmin. "Quem é da situação não gosta de investigação política porque corre o risco da CPI ser usada de forma eleitoral, não técnica. Foram dois anos sem instaurar uma CPI. O Rodrigo está corrigindo", comenta Caldini Crespo.