Título: Vasp ganha tempo, mas intervenção da Justiça continua
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Empresas &, p. B1

Em vez de apresentar carta de fiança bancária, companhia entregou apenas um protocolo

Começou mal o acordo assinado na sexta-feira entre a Vasp e a Justiça do Trabalho de São Paulo para suspender a intervenção na companhia, que dura três meses. Ontem a companhia não cumpriu o primeiro ponto do trato e deixou de apresentar uma carta de fiança bancária de R$ 40 milhões. No lugar dela, a companhia aérea entregou apenas um protocolo de pedido da fiança feito a um banco, segundo informação oficial do Tribunal Regional do Trabalho. O texto do acordo explicitava que a fiança deveria ser do Banco do Brasil e serviria de garantia ao pagamento dos débitos trabalhistas e previdenciários da Vasp. Com isso, Wagner Canhedo, dono da Vasp, ganhou tempo. O juiz da 14ª Vara, Homero Batista da Silva, não interpretou o ocorrido como um descumprimento do acordo e resolveu aguardar pela formalização da fiança bancária. No acordo fechado no dia 27 de maio, Canhedo comprometeu-se a quitar todos os débitos trabalhistas, previdenciários e com o Fundo de Garantia por Tempo de Serviço (FGTS) até julho. As promessas foram feitas ao Sindicato Nacional dos Aeronautas e ao Sindicato dos Aeroviários no Estado de São Paulo, autores da ação trabalhista contra a Vasp. A assinatura do acordo com a Justiça Trabalhista está relacionado a um segundo acordo, entre Canhedo e uma desconhecida empresa chamada GBDS S.A. O empresário informou que concordou em vender o controle da Vasp a essa empresa. O dinheiro para quitar as dívidas trabalhistas e previdenciárias deveriam, portanto, vir dessa empresa. Joicy von Stwezzer, identificada como vice-presidente da GBDS e Marcos Faria, seu vice-presidente financeiro, inclusive participaram da audiência judicial e subscreveram o acordo. Há alguns meses, antes de chegar a um entendimento com Canhedo, Faria chegou a dizer ao Valor que a GBDS tinha interesse em desembolsar imediatamente R$ 80 milhões para encerrar os processos trabalhistas. O dinheiro, segundo ele, seria gasto antes mesmo de um processo de auditoria para avaliar a Vasp e concluir pelo valor total da transação. Além do dinheiro, Faria afirmou que a empresa e um parceiro estrangeiro com negócios no setor de aviação tinham cerca de 50 aviões da Boeing estacionados no exterior e que poderiam ser incorporados à frota da Vasp. Ontem, nem Canhedo nem representantes da GBDS puderam ser encontrados pela reportagem. Além de formalizar a fiança bancária, a Vasp tem que regularizar os salários atrasados até a próxima sexta-feira e quitar as verbas rescisórias dos empregados demitidos até 17 de junho. Quanto às dívidas com o Fundo de Garantia, o INSS e fundo de pensão Aeros, o prazo para regularizar a situação é 29 de julho, segundo o que ficou acertado no acordo judicial. Independentemente do cumprimento desses itens, os bens da Vasp e de seus controladores continuarão indisponíveis até o dia 1º de setembro. Caso a companhia descumpra os termos, esses bens serão executados para quitar as dívidas trabalhistas. Praticamente não existem informações públicas sobre a origem da GBDS. Tampouco se falou da procedência dos recursos que seriam investidos na Vasp. Pelo que o Valor apurou e Faria confirmou, a GBDS é ligada a uma empresa estrangeira chamada GCC. Joicy, que não é brasileira, seria a fundadora de ambas. Sobre a limitação da legislação brasileira à participação do capital estrangeiro em companhias de aviação (20% no máximo), Faria disse que a GBDS é "100% brasileira" e independente em relação à GCC.