Título: A sombra da inflação
Autor: Iunes, Ivan; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2010, Política, p. 2

Derrotado em todas as suas pretensões políticas, caberá agora ao presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, sustentar-se no governo como o avalista do poder de compra da moeda brasileira. Com a inflação em disparada, podendo estourar neste ano o teto da meta definido pelo Conselho Monetário Nacional (CMN), de 6,5%, ele terá que conduzir o quarto ciclo de aumento de juros do governo Lula. Ao conduzir ¿esse serviço sujo¿, Meirelles ajudará a preservar a renda da população mais pobre, na qual o presidente Lula deposita todas as fichas para fazer da petista Dilma Rousseff, ex-ministra da Casa Civil, a sua sucessora nas eleições de outubro próximo. Apesar da frustração de Meirelles, os analistas respiraram aliviados, pois a sua permanência à frente do BC reduzirá as incertezas acerca da alta da taxa básica de juros (Selic) em um ano eleitoral. O mercado se inquietou ontem, diante dos rumores de que ele renunciaria ¿ mesmo tendo sido afastado por Lula da vaga de vice na chapa de Dilma ¿ e de que a Presidência do banco seria ocupada por Nelson Barbosa, secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, visto como flexível demais no controle da inflação. O arrocho a ser tocado por Meirelles começará no próximo dia 28, quando se encerrará mais uma reunião do Comitê de Política Monetária (Copom).

Consumo

Para o estrategista-chefe do Banco WestLB, Roberto Padovani, os ruídos no mercado no período de indecisão de Meirelles foram consequência da falta de independência formal do BC. ¿O Banco Central no Brasil não possui autonomia formal. Então, em toda mudança de gestão há a preocupação em relação ao novo comando, principalmente em um ano eleitoral¿, afirmou. Segundo ele, a política de juros não mudaria com uma eventual troca de comando no BC. ¿O que interessa ao governo é manter a inflação baixa para preservar o consumo da população¿, emendou. Zeina Latif, economista-chefe do Banco ING, é da mesma opinião. ¿Agora, com a permanência de Meirelles no cargo, a tendência é de que as incertezas sejam menores. Ano eleitoral não é um ano neutro, o mercado sempre especula¿, assinalou. Na visão de Carlos Thadeu Filho, economista-chefe da Personale Investimentos, com Meirelles no BC reforçou-se o cenário de aumento da Selic no fim deste mês. ¿A inflação está alta demais¿. Decidi atender ao pedido do presidente, no sentido de consolidar um trabalho de mais de sete anos de estabilidade da economia brasileira, de controle da inflação