Título: Meirelles fica. Temer agradece
Autor: Iunes, Ivan; Bancillon, Deco
Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2010, Política, p. 2

eleições

Com escassas chances de ocupar a vaga de vice na chapa de Dilma, titular do BC desiste da corrida eleitoral e abre alas para o presidente da Câmara O dia do fico do presidente do Banco Central, Henrique Meirelles (PMDB), praticamente confirma o nome do presidente da Câmara dos Deputados, Michel Temer (PMDB-SP), como vice-presidente na chapa de Dilma Rousseff (PT). Estimulado pelo presidente Luiz Inácio Lula da Silva, Meirelles era a maior ameaça aos planos eleitorais da ala do PMDB que hoje controla o partido, capitaneada pelo próprio Temer e pelos senadores Renan Calheiros (AL) e José Sarney (AP). Depois que o grupo perdeu o apoio dos petistas à reeleição da governadora do Maranhão, Roseana Sarney, garantir o nome do vice virou questão crucial para a aliança nacional entre PMDB e PT. Com o apoio do Planalto esvaziado, Meirelles tinha duas cartas: permanecer no BC ou tentar uma eleição difícil para o Senado em Goiás. O anúncio, feito em conjunto com a direção do banco, foi divulgado depois do fechamento do mercado, por prudência, às 18h15. Os movimentos de Meirelles nas últimas 48 horas demonstraram que o presidente do BC trabalhou com a hipótese de sair do órgão pelo menos até o início da tarde de ontem. No próprio CCBB, sede atual do governo, a opinião geral era de que o economista sairia. Um forte indício dessa disposição seria o encontro com Lula no Palácio da Alvorada, pouco depois do almoço, além de várias reuniões com integrantes do PMDB. Se a decisão fosse a de permanecer no banco, bastaria um telefonema ao presidente, avaliavam assessores. Ao fim do dia, o presidente do BC anunciou o fico que, segundo ele, refletia um pedido de Lula. ¿Ficarei no Banco Central visando garantir a tranquilidade e a estabilidade da economia brasileira. Decidi atender ao pedido do presidente, no sentido de consolidar um trabalho de mais de sete anos de estabilidade da economia brasileira, de controle da inflação¿, justificou. O próprio Meirelles confirmou que a decisão foi tomada ontem, depois da reunião com Lula, e que comunicou a posição à pré-candidata Dilma Rousseff. O presidente do BC lembrou que, pela segunda vez, colocará de lado a carreira política para atender a um pedido de Lula. Em 2002, Meirelles abriu mão do mandato de deputado federal por Goiás para assumir o banco. ¿Lá, como agora, mostro que meu objetivo não é cargo político¿, enfatizou.

Sucessão

Durante o anúncio do fico, Meirelles evitou tratar diretamente de sua sucessão no BC, caso a decisão tivesse pendido para a saída do banco. O objetivo era desconversar sobre uma possibilidade posta pelo mercado, de o cargo ser entregue ao atual secretário de Política Econômica do Ministério da Fazenda, Nélson Barbosa. ¿Não cheguei a discutir alternativas de sucessão¿, disse Meirelles. ¿Tenho tranquilidade e segurança de que, eu saindo, o presidente Lula tomaria a decisão certa¿, despistou. Mesmo com a recusa da direção do PMDB em alçá-lo à vice na chapa de Dilma, o presidente do BC disse sentir-se valorizado na legenda. ¿Tenho apoio total do PMDB. O prefeito de Goiânia, Íris Rezende, me ligou ontem com um apelo forte para que eu saísse do BC¿, revelou. Segundo Meirelles, o partido também teria oferecido a legenda para que ele se candidatasse ao governo de Goiás.