Título: PIB fraco derruba juros futuros
Autor: Luiz Sérgio Guimarães
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Finanças, p. C2

Alguém enganou o presidente Lula. Depois que o IBGE divulgou os números sobre o desempenho do PIB no primeiro trimestre do ano, Lula terá de mudar sua previsão de que a economia brasileira irá crescer este ano 4%. O sonho acabou. Depois da expansão insignificante de 0,3% (ou 1,2% anualizado) entre janeiro e março, para que o PIB feche 2005 com crescimento de 4% cada trimestre terá, doravante, de crescer 1,6% sobre o anterior, segundo cálculos do Departamento Econômico do Bradesco. Uma tarefa impossível diante do juro real de 12,8% e da apreciação cambial. Se a Selic não começar a cair logo e se o real não vier a desvalorizar-se rapidamente, mesmo o prognóstico de crescer 3% estará comprometido. Os números revelados ontem pelo IBGE mostram que o Banco Central foi longe demais em sua perseguição obstinada a uma meta irreal de inflação. Terá de fazer o caminho de volta, e rápido. Os juros caíram ontem no mercado futuro da BM&F. Os tesoureiros ignoraram o sinal de alta da Selic emitido na ata da última reunião do Copom. A "ata do mal" sofre rasgos mais profundos a cada novo indicador. Depois da deflação do IGP-M, ontem foi a vez do PIB picar o documento. O pregão de DI futuro considera encerrado o aperto monetário iniciado em setembro. Após nove altas, partindo de 16%, a Selic irá estacionar em 19,75%. E não permanecerá muito tempo aí. O contrato mais negociado, para a virada do ano, recuou ontem de 19,49% para 19,45%. O swap de 360 dias cedeu de 18,75% para 18,70%.

Sinal de Azevedo surpreende e irrita

Os números do IBGE demolem a tese oficial de que a política monetária não impede o crescimento sustentável. Ela, na verdade, já produziu estragos consideráveis. Trimestre a trimestre, a economia vem perdendo força. Do final de 2004 para cá, a expansão em 12 meses tombou de 4,9% para 2,9%. A economia está sendo sustentada hoje pelo agronegócio (alta de 2,6% no trimestre) e pelas exportações (acréscimo de 3,5%). A indústria caiu 1% e os serviços recuaram 0,2%. O nível de investimentos caiu 3% perante o trimestre anterior, o consumo das famílias recuou 0,6% e consumo do governo cedeu 0,1%. É irônica a coincidência de os dados revelarem a pujança da agricultura brasileira justamente no dia de poderosas manifestações rurais contra o juro alto e o câmbio apreciado. Certamente os agricultores não estão se queixando de barriga cheia. Na verdade, os dados sobre o PIB do segundo trimestre irão revelar que o agronegócio já parou de sustentar o PIB. E as exportações? Em tese a estagnação interna empurra a economia para fora do país, desde que a moeda nacional seja competitiva internacionalmente. O próprio BC já está duvidando disso. O diretor de Política Monetária do BC, Rodrigo Azevedo, não esperou passar o vencimento do mercado futuro de dólar da BM&F para alertar os bancos para a possibilidade de o BC retomar as suas compras diretas de dólar, interrompidas no dia 16 de março. Neste ano, o BC adquiriu à vista US$ 10,22 bilhões. A moeda disparou 1,56%, cotada a R$ 2,4090. Surpreendente, a declaração de Azevedo rompeu a regra tácita de não intervenção da autoridade monetária em dias de formação de "ptax". Ela teve influência decisiva na disputa entre "comprados" e "vendidos", e provocou muita irritação entre estes últimos. Mas, contraditoriamente, o BC não fará hoje leilão de swaps reversos. Se o BC não passar do discurso para a ação, o dólar voltará a cair. Mesmo com a alta de ontem, a desvalorização do dólar em maio foi de 4,74%. O BC terá de escolher qual âncora usará contra a inflação, a monetária ou a cambial. As duas juntas, a economia não suporta.