Título: Iglesias renuncia; Sayad é candidato
Autor: Tatiana Bautzer
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, Finanças, p. C8

Brasileiro concorre como um dos favoritos a assumir a presidência do BID

Depois de meses de expectativa, o presidente do Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID), Enrique Iglesias, apresentou ontem sua renúncia. Iglesias fica no cargo até 30 de setembro. Os países membros têm agora 45 dias para apresentar candidatos e já é certo que o atual vice-presidente de finanças do BID, João Sayad, será candidato pelo Brasil. A eleição deve ocorrer nos últimos dias de julho ou início de agosto. Sayad deve ter como concorrentes, pelo menos na fase inicial, o embaixador colombiano em Washington, Luis Alberto Moreno, e o boliviano Enrique Garcia, presidente da Corporação Andina de Fomento (CAF). Também é citado o nome do peruano Roberto Danino. Dificilmente, entretanto, devem chegar mais que dois candidatos à eleição final pelos governadores, pelas exigências do estatuto do BID. O presidente precisa ser eleito por pelo menos 50% dos votos, mas também pela maioria dos 28 países das Américas afiliados à instituição (incluindo Estados Unidos e Canadá). Ou seja, além de reunir 50% dos votos, o candidato precisa do apoio de 15 países. O Brasil e a Argentina têm cada um 10% do direito de voto no BID e poder político relativamente maior do que em outras instituições, ficando em segundo lugar, atrás dos 30% detidos pelos Estados Unidos. O México tem 6%. O único país a compartilhar a diretoria com o Brasil é o Suriname, e a Argentina tem como membro de sua diretoria o Haiti. Colômbia e Peru dividem a mesma diretoria. A embaixada colombiana em Washington confirmou que Moreno será indicado candidato pelo governo colombiano. O Departamento do Tesouro não informou qual será a posição dos EUA na eleição. Sayad tem a vantagem de ser o único candidato que já está no BID, ocupando a vice-presidência de planejamento e finanças há oito meses. A maior dúvida é em relação ao apoio dos Estados Unidos. Recentemente, os EUA aumentaram a divisão entre países da América Latina ao apoiar candidatos do Caribe e posteriormente do México para a secretaria-geral da Organização dos Estados Americanos (OEA). Os americanos recuaram e aceitaram apoiar o candidato chileno, José Miguel Insulza, durante uma visita da secretária de Estado Condoleeza Rice a Santiago. Não se sabe se agora apoiarão o candidato colombiano. Iglesias permaneceu na presidência do BID por 17 anos, e divulgou ontem um trecho de sua carta de renúncia dirigida ao ministro japonês Sadakazu Tanigaki. "Depois de trabalhar no banco por mais de 17 anos, chegou a hora de passar a liderança para a nova geração." O mandato atual venceria em abril de 2008, mas Iglesias está renunciando para tornar-se secretário geral do Conselho Ibero-Americano, com sede em Madri. O uruguaio foi escolhido por unanimidade para dirigir o organismo no sábado. Na breve retrospectiva de seus mandatos sucessivos divulgada num comunicado ontem, Iglesias ressaltou as mudanças econômicas na América Latina desde os anos 80, chamados de "década perdida" e o aumento de capital do banco, que hoje empresta até US$ 8 bilhões por ano. Iglesias também ressaltou a entrada da Coréia do Sul no BID na última reunião anual. Desde a reeleição de George Bush como presidente dos EUA, praticamente todas as instituições multilaterais tiveram mudanças no comando. Assume hoje no Banco Mundial (Bird) o ex-subsecretário de Defesa, Paul Wolfowitz, que deve encontrar grande resistência entre os 10 mil funcionários da instituição. Segundo o jornal "The Washington Post", há grande resistência na diretoria do banco ao novo presidente. Alguns recusaram convocações de assessores para reuniões no Pentágono. A diretoria aprovou mudanças na gerência do organismo no apagar das luzes da gestão de James Wolfehnson sem consultar o novo presidente, e Wolfowitz ordenou que a reorganização espere pela sua chegada. O Bird recentemente divulgou um relatório com uma auto-crítica sobre a ineficiência dos programas de desenvolvimento. Segundo o relatório, o banco deveria voltar-se para políticas de estímulo ao crescimento econômi-co ao invés de dar grande importância a programas sociais de educação ou saúde, que não apresentaram resultados mensuráveis. Espera-se que Wolfowitz faça uma reorganização no Bird e reduza pelo menos parte do grande contingente de funcionários. O diretor-gerente do FMI, Rodrigo Rato, que também assumiu o cargo há pouco mais de um ano, divulgou ontem um comunicado elogiando a gestão de Wolfehnson no Bird nos últimos dez anos, especialmente o financiamento do combate à AIDS e medidas para tentar reduzir a corrupção em países pobres.