Título: Risco é adoção cega dos referenciais, diz analista
Autor: Daniele Camba
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, EU &, p. D1

A adoção cega dos métodos de análise é um risco bem conhecido pelos gestores que usam as recomendações dos analistas, diz Marcos Elias, da Link Corretora. Com a experiência de quem trabalhou dos dois lados do balcão, ele elaborou um teste inspirado nos tempos em que trabalhava como gestor na administradora de fundos GAS e ouvia os analistas falando que certos papéis estavam caros ou baratos usando como justificativa indicadores como Preço/Lucro ou Ebitda. Elias pegou então 300 empresas em 1994 e seus balanços de três anos anteriores. Mas no lugar dos nomes, colocou códigos. Pediu, em seguida, para os analistas montarem carteiras com base nos múltiplos e usando o critério de fluxo de caixa descontado. Resultado: ninguém indicou nenhuma das dez empresas que tiveram rentabilidade de 10.000% em 10 anos. "Por isso, comecei a fazer críticas à forma mecânica de olhar os múltiplos das empresas e passei a buscar formas diferentes de avaliação." Um dos problemas da análise, lembra ele, é justamente com sua base, que é o fluxo de caixa descontado. Trata-se de uma projeção de quanto valeria uma ação se a situação atual de lucro da companhia se perpetuasse. Com isso, não se capturam grandes mudanças que ocorrem na empresa, que são justamente os fatores que as tornam oportunidades. Elias dá como exemplo a Belgo Mineira. "Pela análise fundamentalista, a Belgo era uma ação cara em 1997", diz. Apesar disso, de 1997 a 2002, o papel subiu de R$ 620 para R$ 552 e ainda recebe recomendação de compra. "Ou seja, o papel era caro, subiu 1.000% e ficou barato", ironiza. Segundo Elias, há uma relação grande entre a apreciação de uma ação e o consenso de mercado. "A empresa pode ter um prejuízo menor e a ação subir. Já outra companhia, que teve lucro menor que o esperado, cair", diz. Por isso, é importante acompanhar esse consenso e saber tirar vantagem dele em alguns momentos. Entre os pontos que Elias acredita serem fundamentais para avaliar uma empresa está o plano de crescimento, se é factível, e se os gestores mostram competência para executá-lo. É importante também saber se a companhia tem como financiar expansão e como ela se relaciona com bancos e o mercado de capitais. O custo de expansão também é importante, assim como saber a quantas anda a utilização da capacidade instalada e em quanto tempo ela pode ser ampliada. A importância da empresa para o governo ou para a economia do país também tem peso, assim como as vantagens em relação aos concorrentes, se há obstáculos tecnológicos ou problemas regulatórios que ameacem a expansão. O grau de governança corporativa, eventuais problemas com minoritários e a existência de uma política para agregar valor ao acionista também pesam na decisão. Outra recomendação é fugir de empresas com estrutura de controle em pirâmide, com várias holdings, que costumam pagar menos dividendos. E, acima de tudo, conhecer bem a empresa. "Nós só recomendamos ações de empresas onde sabemos o nome de 20 pessoas de cor e conhecemos cinco caminhos para chegar até ela", diz.