Título: Mudanças nas regras de fundos devem sair até o mês de setembro
Autor: Luciana Monteiro, Angelo Pavini e Flavia Lima
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, EU &, p. D2
Pesquisa do Ibope mostra o perfil do investidor brasileiro
A Comissão de Valores Mobiliários (CVM) deve divulgar até setembro mudanças na Instrução 409, que regulamenta o setor de fundos de investimento. Entre as principais alterações estará a obrigatoriedade de os gestores que aplicam em papéis privados que exigem avaliação maior de risco de crédito colocarem no nome do fundo em que ativos a carteira está mais concentrada. A informação é do superintendente de Relações com Investidores Institucionais da autarquia, Carlos Eduardo Sussekind, que participou ontem do 3º Congresso sobre fundos promovido pela Associação Nacional dos Bancos de Investimento (Anbid). Além dessa mudança, o executivo diz que a CVM estuda também flexibilizar o percentual que os fundos de renda fixa têm para aplicar em carteiras de direitos creditórios (FIDCs). Também chamados fundos de recebíveis, essas carteiras foram regulamentadas no final de novembro de 2001 e aplicam em títulos lastreados em créditos que bancos ou empresas têm a receber como, por exemplo, carteiras de crédito ao consumidor, de financiamento imobiliário, faturas de vendas a prazo, etc. Atualmente, os fundos de renda fixa só podem aplicar até 10% do patrimônio em cotas desses fundos. Sussekind. disse ainda que na quinta-feira, a CVM irá se reunir com uma comissão da Anbid para discutir outras sugestões de mudanças na 409. Segundo Alfredo Setubal, presidente da Anbid, nessa reunião serão discutidas não apenas questões relativas a fundos, mas também custódia e mercado de capitais. O Valor apurou que questões operacionais como a cobrança da taxa de fiscalização dos fundos de investimento estarão na pauta. Com relação à fiscalização educativa, ou seja, sem punições, que a CVM está promovendo para verificar o ajuste dos fundos de varejo à 409, o executivo disse que a autarquia já enviou mais de 5 mil questionamentos para administradores explicarem variações de cotas fora do padrão da aplicação. Setubal acha que a elevada taxa de juros acaba concentrando recursos nos fundos de renda fixa - que representam a maior parte do volume no setor - e inibem a criação de produtos. "Há um certo 'empoçamento' dos recursos na renda fixa e em títulos públicos, limitando a capacidade de diversificação de risco." O Ibope divulgou também a pesquisa com mil entrevistas telefônicas em todo o país com pessoas acima de 18 anos das classes A, B e C. O estudo revelou que um terço dos entrevistados está muito disposto a investir em fundos, enquanto 25% não têm interesse. Entre os que investem, 38% têm mais de 50 anos, 26% de 40 e 49, 19% entre 30 e 39 e 16% entre 16 e 29 anos. Os homens representam 56%. A maioria (53%) dos investidores pertence à classe A e o restante, à classe B. A renda familiar mensal, em 30% dos casos, vai de R$ 4,8 mil a R$ 9,6 mil e 24% de R$ 1,2 mil a R$ 4,8 mil. As capitais concentram 88% dos investidores em fundos, sendo que 72% têm nível superior. Os bancos de varejo são os locais de investimento de 89% dos entrevistados. O valor aplicado, segundo 32%, é uma pequena parcela da renda, enquanto 31% investem uma grande parcela. A maioria (52%) tem entre dois e quatro fundos e 49% aplicam até R$ 20 mil. A maioria (54%) dos entrevistados já ouviu falar de fundos DI e 48% conheciam os renda fixa. Já 30% confundiram CDBs com fundos. Sem citar os tipos de fundos, os de ações eram conhecidos por apenas 39%. Mas diante de uma lista, 89% conheciam essas carteiras, perdendo apenas para os renda fixa, conhecidos por 92%. Um terço dos entrevistados não sabia o valor mínimo de aplicação, a rentabilidade mensal e mais de 60% não faz idéia de qual a taxa de administração do fundo. Mais de 60% sabiam da nova regra de tributação regressiva. Mas 69% acreditam que o fundo seria prejudicado pela falência do gestor. A principal fonte de informação para 54% dos investidores são gerentes de bancos e, para 45%, jornais. O tempo médio de permanência da aplicação em um fundo, para 40% dos entrevistados, é de mais de 24 meses. Para 65% dos aplicadores, a rentabilidade só é boa em fundos com aplicação muito alta ou para quem tem muito dinheiro. Apesar disso, 67% afirmam estar satisfeitos com seus investimentos em fundos.