Título: Bolsa surpreende em maio, mas DI ainda é indicação
Autor: Felipe Frisch
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, EU &, p. D2

Os fundos de investimento que acompanham a taxa básica de juros continuam sendo a aposta dos analistas para o mês de junho. Nem mesmo a alta inesperada, de 1,47%, do Índice Bovespa em maio anima os especialistas a recomendarem o mercado de ações como fonte de ganhos. Já o dólar divide opiniões, mas são poucos os que acham que ele se manterá próximo dos R$ 2,40 ou R$ 2,30 até o fim do ano. Ontem, a moeda encerrou os negócios valendo R$ 2,409. A estimativa da consultoria GRC Visão, por exemplo, é de que a moeda americana estará valendo R$ 2,80 em dezembro, mas ainda pode cair um pouco mais, até R$ 2,30, em junho. Já o consultor Fábio Colombo dá destaque para a declaração do diretor de Política Monetária do Banco Central (BC), Rodrigo Azevedo, ontem, de que a autoridade monetária pode retomar as compras de dólares para recompor reservas quando a divisa estiver num nível atraente. Com isso, é possível que a alta da moeda americana comece logo. Por conta disso, Colombo indica a aplicação de 15% a 20% da carteira em ativos dolarizados para os investidores mais conservadores, a título de diversificação do risco. A grande aposta ainda é mesmo o CDI, a taxa das operações entre os bancos, que acompanha a Selic do BC e, portanto, a remuneração dos títulos pós-fixados do Tesouro Nacional. A divulgação do PIB ontem, com um crescimento abaixo das expectativas do mercado, de 0,3% no trimestre, encontra interpretações diversas e opostas. Se baixo crescimento é ruim especialmente para as empresas, e portanto para as ações daquelas com capital aberto, o número pode servir de alerta para o BC ao menos interromper a alta dos juros para evitar uma recessão. "Mas o CDI, mesmo estável, em 19,75% ao ano, ainda é uma remuneração alta", avalia Alex Agostini, economista da GRC. Fábio Colombo concorda. "Os juros continuam sendo aplicações imbatíveis com esse patamar", diz. Mas quem tiver apetite pelo risco pode colocar de 15% a 30% em títulos prefixados, pois podem ter ganho acima do CDI caso o BC resolva reduzir os juros ou sinalize para isso, avalia. Na avaliação de Agostini, a recuperação da bolsa no mês passado foi conseqüência da melhora dos indicadores brasileiros, como superávit primário e balança comercial. Somado isso à momentânea superação dos problemas corporativos americanos, ele não vê motivos para a bolsa continuar perdendo valor em junho. Ele acredita numa alta ainda que modesta, em torno de 2%, para o mercado acionário nesse mês, isso se os indicadores continuarem positivos. "Não basta as empresas aqui darem lucro, é importante ter um cenário favorável", diz. O economista mantém sua projeção de um Ibovespa aos 24.500 pontos no fim do ano. Ontem, o indicador encerrou aos 25.207 pontos. O mês deve continuar indefinido até a próxima reunião do Comitê de Política Monetária (Copom), nos dias 14 e 15, avalia Fábio Colombo. "A bolsa pode ir bem se o país continuar crescendo e a economia mundial também, mas se o BC aumentar os juros com esse cenário, será um balde de água fria no mercado." No mês passado, a renda fixa ainda foi o melhor investimento, mas quase empatada com a bolsa. Os CDBs tiveram rentabilidade de 1,49%, enquanto os fundos DI deram um ganho de 1,27%, abaixo ainda do 1,3% dos fundos de renda fixa. Apesar da variação de 1,47% do Ibovespa, o principal indicador da bolsa ainda cai 3,78% no ano. Já os fundos DI sobem 7,04%, ainda atrás dos CDBs, com valorização de 7,37%. Liderando as perdas, o dólar comercial acumula perda de 9,23% no ano.