Título: Desafios em várias frentes
Autor: Maria Cândida Vieira
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE, p. F1

Crescimento sustentável depende do fim da guerra fiscal e de políticas que ataquem as desigualdades

O crescimento sustentável do Nordeste, região com Produto Interno Bruto da ordem de US$ 100 bilhões, exige uma política produtiva apta a reduzir disparidades regionais, o fim da guerra fiscal entre os Estados e a recriação de um organismo indutor do desenvolvimento nos moldes da extinta Superintendência do Nordeste (Sudene), sem os seus vícios e distorções. Essa visão de conjunto da região, que tem 47,7 milhões de habitantes e renda per capita de US$ 2.000, é importante para alavancar os investimentos em infra-estrutura e as crescentes oportunidades de negócios. Apesar das dificuldades, a demanda regional por crédito é firme. Pelos dados do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), até meados de maio, a prospecção de financiamentos com recursos do Fundo Constitucional de Desenvolvimento do Nordeste (FNE) chegava a R$ 16,8 bilhões, dos quais R$ 2,5 bilhões nas áreas de eletricidade, gás e água.

Matheus Antunes, do porto de Suape: papel semelhante ao de Hong Kong "Precisamos da integração dos grandes objetivos do Nordeste, porque a guerra fiscal não superou os problemas existentes e não levou a um salto qualitativo na região", disse o ministro da Ciência e Tecnologia, o pernambucano Eduardo Campos, ao participar, segunda-feira, do seminário "Desenvolvimento do Nordeste", em Recife, promovido pelo Valor e patrocinado pelo BNB e pela Infraero. Um órgão indutor de desenvolvimento pode acelerar o crescimento da região diante do processo de concorrência mundial da produção na busca de novos espaços para investimentos. "O banco está recebendo consultas de indústrias têxteis da Ásia, interessadas em investir no Nordeste por causa do fim do sistema de cotas do setor", afirmou Roberto Smith, presidente do BNB. Com operações contratadas de R$ 806,6 milhões nos primeiros quatro meses do ano, 145% a mais do que em igual período de 2004, o banco tem estudos sobre 31 cadeias produtivas para nortear suas ações. Entre elas, a ampliação de capacidade industrial instalada, a competitividade e o apoio a empreendimentos que podem ter impacto estrutural sobre a economia nordestina. Esses projetos estruturantes exigem novos investimentos em infra-estrutura e abrem janelas de oportunidades. "Vamos precisar de empreendimentos imobiliários, como centros de serviços para triagem de produtos e integração com as rodovias", afirmou Matheus Antunes, presidente do porto de Suape, um dos mais modernos do país. O terminal de contêineres deverá movimentar este ano 170 mil toneladas, contra 140 mil em 2004. "O porto de Suape pode ter um papel semelhante ao de Hong Kong, onde 70% das cargas são distribuídas para outras regiões". Esses empreendimentos em Pernambuco são necessários em função de futuros projetos como o pólo de poliéster, de US$ 800 milhões; a construção de um estaleiro de US$ 170 milhões e a instalação da refinaria da Petrobras com a PDVSA (Petróleos de Venezuela), a ser anunciada em julho, de US$ 2,5 bilhões, que o Estado espera com fervor. As pressões sobre a área de infra-estrutura têm aumentado com a retomada do crescimento econômico e a competição mundial por novos locais de produção, segundo Paulo Eugênio Cabral, diretor de gestão de desenvolvimento do BNB. Até 2003, o banco operava apenas com os setores rural, industrial, comercial e serviços. No ano passado, R$ 764 milhões foram destinados à infra-estrutura, ou 23,8% dos financiamentos. O BNDES também está empenhado em investir na infra-estrutura, segundo Maurício Borges, diretor das áreas de operações indiretas e inclusão social. Ele citou, entre outros, o financiamento de US$ 1 bilhão para o gasoduto Gasene; projetos de gás e petróleo no valor de US$ 1,7 bilhão e US$ 500 milhões em transportes e logística.