Título: Indústrias aceleram investimento apesar da infra-estrutura
Autor: Maria Cândida Vieira
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE, p. F2

PIB regional deve crescer até 4%, mas para atenuar desigualdades ritmo teria que ser mais intenso

Com um Produto Interno Bruto (PIB) da ordem de R$ 247 bilhões, o Nordeste tem de crescer a taxas superiores às do país para reduzir suas disparidades sociais e regionais. Para acelerar esse ritmo, a região precisa de uma política indutora de desenvolvimento e de investimentos públicos no setor de infra-estrutura, que está à beira de um estrangulamento. Apesar das limitações e dificuldades, o Nordeste continua a atrair investimentos e deverá crescer de 3,5% a 4% este ano, nos mesmos níveis das previsões para o Brasil, e abaixo dos 5% alcançados no ano passado. A prospecção de negócios do Banco do Nordeste do Brasil (BNB), principal financiador da região, projetava para 2005 investimentos de R$ 14,2 bilhões. "Procuramos fazer o nosso trabalho, independentemente dos governos. Se não fosse assim, a empresa não conseguiria ter o desempenho que vem tendo", afirma Américo Pereira Filho, diretor comercial da Rapidão Cometa, maior empresa de transportes do Norte-Nordeste, com 350 mil entregas por mês. A Rapidão Cometa, com sede em Recife, prevê crescimento de 25% este ano. Em 2004, o faturamento foi de R$ 349 milhões. Presente em todas as capitais da região, a empresa inaugura este ano novos terminais em Aracaju, em Sergipe, e Feira de Santana, na Bahia, e amplia o terminal de Salvador, na Bahia. Além disso, está investindo R$ 16 milhões para aumentar a sua frota, que tem mais de 1.900 veículos. Américo Pereira Filho reconhece que os problemas de infra-estrutura, principalmente as péssimas condições das rodovias federais, elevam os custos da transportadora. "Estradas ruins prejudicam os carros e provocam a quebra de produtos. Tudo isso impacta os custos da empresa." "Qualquer crescimento mais significativo vai esbarrar no estrangulamento da infra-estrutura", diz Gustavo Maia Gomes, professor adjunto do Departamento de Economia da Universidade Federal de Pernambuco. Com rodovias e ferrovias sucateadas, observa, está cada vez mais difícil escoar a produção. Gomes defende o retorno do setor público nos investimentos em infra-estrutura, com a recuperação das rodovias, a construção da ferrovia Transnordestina, projeto de 25 anos, e a transposição do rio São Francisco, "sonho" de mais de 100 anos. A retomada dos investimentos nesse setor por parte do governo federal também é defendida pelo presidente da Federação das Indústrias do Ceará (Fiec), Jorge Parente Frota. "Tirando os portos de Pecém, no Ceará, e Suape, em Pernambuco, que são modernos, falta infra-estrutura. As ferrovias e rodovias no Nordeste estão em situação precaríssima", constata. Apesar dos problemas, o Nordeste exportou mais de US$ 8 bilhões no ano passado, aumento de 31,5% frente ao período anterior. As exportações regionais, no entanto, representam apenas 8,3% do total vendido pelo país no exterior. Para Frota, não basta a retomada do investimento público. Falta uma política regional que estimule o desenvolvimento. Segundo ele, a extinção da Superintendência do Nordeste (Sudene) em 2001, pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, deixou um vazio institucional, que não tem ajudado a economia local a crescer de forma mais expressiva. "O fechamento da Sudene foi fatal para a região", destaca Jorge Côrte Real, presidente da Federação das Indústrias de Pernambuco (Fiepe). Ele afirma que é preciso ter um órgão, com verbas garantidas, para desenvolver políticas para o Nordeste. "Há necessidade de conscientização nacional para resolver as desigualdades regionais e sociais", afirma, lembrando que essa foi uma das bases da Comunidade Européia. Sem uma política regional, os Estados passaram a dar uma série de incentivos fiscais para atrair investimentos. Essas políticas, somadas a novas oportunidades de negócios, têm atraído empresas para a região. "O BNB poderá financiar mais de R$ 4 bilhões este ano", diz o presidente da instituição, Roberto Smith. Entre 2003 e 2004, as operações do banco saltaram de R$ 2 bilhões para R$ 4,5 bilhões, superando o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) nos financiamentos regionais, que desembolsou R$ 2,7 bilhões no ano passado. A maior demanda por empréstimos este ano, segundo Smith, é para infra-estrutura: energia elétrica, eólica, gasodutos e telecomunicações. Entre os investimentos previstos para a região destacam-se os da Bahia. Pelas previsões do início do ano deverão ser investidos no Estado R$ 9 bilhões em 2005. Parte expressiva dos recursos é para a área de papel e celulose: a Bahia Pulp pretende investir R$ 1,3 bilhão em sua fábrica de Camaçari e o grupo Suzano R$ 1,2 bilhão para ampliar sua unidade em Mucuri. O segmento de papel e celulose, diz o presidente da Federação das Indústrias da Bahia (Fieb), Jorge Lins Freire, vem crescendo muito e já representa quase 7% do PIB do Estado. A Bahia tem 46% da indústria de transformação do Nordeste. A Braskem, líder em resinas plásticas da América Latina e uma das três maiores empresas brasileiras de capital nacional, continua apostando na região. No primeiro trimestre, aplicou R$ 75 milhões na expansão da capacidade das unidades industriais existentes. Estão em andamento as ampliações de 50 mil toneladas de PVC em Alagoas e 60 mil toneladas de polietileno em Camaçari. "A Braskem é uma empresa de ponta, o que é um diferencial para o Nordeste. Além dos investimentos, a companhia tem procurado atrair clientes para a região para agregar valor à cadeia produtiva", afirma o vice-presidente de relações institucionais, Alexandrino Alencar. No pólo automobilístico de Camaçari, a Continental deverá investir cerca de US$ 270 milhões em uma fábrica e a Bridgestone Firestone R$ 784 milhões em sua unidade. As novas fábricas são para atender a demanda interna e de exportações da Ford do Nordeste. Em 2004, a empresa produziu 195,6 mil veículos, com alta de 41,6% em relação a 2003. Este ano, a previsão é usar toda a capacidade para fabricar 250 mil veículos. Com quatro anos de funcionamento, o pólo automobilístico já aglutina cerca de 30 empresas. A Grendene, com fatia de 21% no mercado nacional de calçados e vendas de 145,2 milhões de pares em 2004, prevê investimentos de R$ 30 milhões na construção de uma nova fábrica em Teixeira de Freitas, na Bahia. Outros R$ 30 milhões irão para ampliar a capacidade de produção em Sobral, no Ceará. Em Pernambuco, a Petrobras e o Grupo Mossi Ghisolfi têm projeto de instalação do pólo de poliéster, que prevê uma unidade de embalagens PET e outra para produção do ácido teraftálico purificado (PTA), matéria-prima usada na fabricação do poliéster. Estão previstos investimentos de US$ 800 milhões. O estaleiro do complexo industrial e portuário de Suape vai exigir recursos da ordem de US$ 170 milhões. O projeto é da Camargo Corrêa em parceria com o grupo japonês Mitsui. Pernambuco aguarda ainda uma disputada refinaria de petróleo, um projeto da Petrobras com a PDVSA (Petróleos de Venezuela), que exigirá investimentos de US$ 2,5 bilhões. A produção da refinaria será de 150 mil a 200 mil barris por dia.