Título: Estados têm estratégia para desbancar Caribe
Autor: Erilene Araujo
Fonte: Valor Econômico, 01/06/2005, DESENVOLVIMENTO DO NORDESTE, p. F4

Número de vôos fretados para a região de janeiro a abril foi igual ao de todo o ano de 2004

O Nordeste desponta no cenário internacional como destino de sol e mar com elevado potencial de exploração. Para que o mundo desperte às rotas de turismo ecológico, arqueológico, biológico, de lazer e de negócios, os governos federal e estaduais, junto com as prefeituras e a iniciativa privada, traçam estratégias para "roubar" do Caribe parte dos turistas estrangeiros. O Instituto Brasileiro de Turismo (Embratur) aposta, num primeiro momento, que os vôos charter da Europa e da América do Sul vão responder não só pelo incremento do turismo e aquecimento da economia, como também pelo aumento do total de visitantes na região, que em 2004 chegou a 15,4 milhões. "Os charter abrem o Nordeste para o turismo e se apresentam como alternativa confortável para novos mercados emissores. Sem eles, muitos turistas europeus, por exemplo, resistiriam em ir até o Nordeste porque teriam que descer, antes, em São Paulo ou no Rio de Janeiro. Uma viagem que fica muito longa", explica Jeanine Pires, diretora de turismo de negócios e eventos da Embratur. Ela estima que o mercado de vôos fretados para a região cresceu mais de 100% entre 2003 e 2004 e, que, nos quatro primeiros meses de 2005, o total de fretamentos somou a mesma quantidade do ano passado. Segundo cálculos da Infraero e da Embratur, cada vôo fretado chega na região com cerca de 210 passageiros, o que equivale a uma taxa de ocupação da ordem de 70%. Nos últimos dois anos, o Rio Grande do Norte foi o recordista no recebimento de charters. Os principais emissores de turistas são Portugal e Espanha. A novidade deste ano são os vôos ligando Milão (Itália) a Natal e a Fortaleza, e Helsinque (Finlândia) ao Recife (PE). Para Jeanine Pires, se estes vôos se tornarem regulares é possível que acabem incentivando a criação de vôos comerciais pelas companhias aéreas. A Embratur credita o crescimento da freqüência de fretamentos tanto a uma demanda turística não absorvida pelos vôos regulares quanto a ações de empresários do turismo que vêem no Brasil novas oportunidades de negócios. Para incentivar um fluxo maior de estrangeiros à região, a Infraero, Embratur e CTI-Nordeste (Fundação Comissão de Turismo Integrado do Nordeste) investiram nos primeiros meses deste ano cerca de R$ 6 milhões em mídia, eventos e materiais promocionais distribuídos em vários países. Jeanine Pires adianta que a estratégia de marketing é focada em cada um dos mercados. E que tudo está sendo realizado em parceria com operadoras internacionais. A Bahia, principal portão de entrada no Nordeste e terceiro do país, não espera por ninguém para fazer sua própria publicidade. Sem revelar números, o presidente da Bahiatursa, Cláudio Taboada, afirma que há outdoors espalhados em diversos países incentivando o turista a "viver a Bahia". "Nosso diferencial é que, além de 1,1 mil quilômetros quadrados de litoral, temos 13 milhões (a população do Estado) de publicitários. Nós sabemos vender nossa cultura, religiosidade e culinária", destaca. Resultado: os vôos internacionais regulares cresceram 258%. Na temporada de verão 2003/2004 havia 12 vôos internacionais regulares semanais para a Bahia. Na temporada 2004/2005 este número pulou para 43 vôos, ligando Salvador diretamente a Lisboa, Madri, Miami, Buenos Aires, Montevidéu e Santiago. Mas não basta só abrir o Nordeste para o turismo internacional. Os nordestinos querem, também, fidelizar os visitantes com seu folclore, cultura, culinária e diversidade geográfica. De acordo com o secretário-executivo da CTI-Nordeste, Roberto Pereira, pesquisas feitas em parceria com outras entidades apontam que 98,7% dos visitantes manifestam o desejo de voltar. "A região tem mais a oferecer que o próprio Caribe. Cada um dos Estados tem sua peculiaridade, sua história, sua cultura, sua culinária e suas festas populares", completou. Outra meta da entidade é incentivar o turismo rural e atrair, de imediato, brasileiros de outras regiões. Pereira conta que já se iniciou um trabalho de capacitação de pessoal e também de melhoria dos engenhos de açúcar de Pernambuco, Bahia e Ceará. "Com isso, pretendemos dar um uso aos engenhos, evitar o êxodo da população rural para a periferia das grandes cidades e gerar emprego na área rural", completa. O turismo nordestino movimenta por ano US$ 28 bilhões. O negócio representa 11,8% do PIB da região. Se o turismo ainda enfrenta gargalos que impedem o crescimento em algumas cidades é, em especial, por falta de infra-estrutura. Ainda faltam pontes e estradas para ligar as capitais a bons roteiros. E é por este motivo que Estados, municípios e a iniciativa privada reivindicam o Prodetur 2 (Programa de Desenvolvimento Turístico do Nordeste). A coordenadora do programa no Ministério do Turismo, Suzana Dieckman, garante que o projeto não só já foi assinado como também irá corrigir algumas distorções do primeiro. "Vamos fazer um trabalho para fortalecer os municípios para que haja desenvolvimento sustentado. Os resultados do Prodetur 2 não serão vistos de imediato porque os investimentos também serão feitos em infra-estrutura, em projetos para melhorar a qualidade de vida da população nordestina e para geração de emprego e renda", sustenta. A expectativa é que os investimentos nesta segunda etapa somem US$ 400 milhões, dos quais R$ 240 serão financiados pelo Banco Interamericano de Desenvolvimento (BID). O Prodetur 1 consumiu cerca de R$ 670 milhões, sendo R$ 400 milhões do BID. Além de obras de infra-estrutura, os recursos financiaram parte da reforma de oito aeroportos nordestinos.