Título: Receita cresce na telefonia, mas fixas perdem tráfego
Autor: Heloisa Magalhães e Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Brasil, p. A3

Independente dos desencontros entre IBGE e Anatel quanto ao impacto da telefonia no cálculo do Produto Interno Bruto (PIB), as empresas de serviços de telecomunicações vêm registrando receitas crescentes. Entretanto, em segmentos que têm peso no cálculo das contas nacionais, como a telefonia fixa local, as operadoras estão registrando redução do tráfego. A saída em busca de mais receita tem sido brigar pelo mercado de telefonia de longa distância e pelo cliente corporativo, além da sofisticação dos serviços, como a oferta de banda larga. Na telefonia celular, o crescimento continua, com a receita líquida das operadoras em 2004 na faixa de R$ 26,5 bilhões, enquanto que em 2003 foi de R$ 21,7 bilhões, segundo estimativas da Teleco, empresa especializada em análises do setor. Mas o ritmo não é tão acelerado como no começo da década, quando a receita operacional líquida crescia perto de 30%. Segundo dados do PIB, revisados pelo IBGE, o crescimento do setor em 2004 foi 8,7% em relação a 2003. O interesse pelo telefone celular é avassalador. Foram quase 19,2 milhões de novos clientes em 2004, com o país fechando o ano com 65,6 milhões de usuários. Em em março de 2005, eram 68,6 milhões, e em abril, 70,7 milhões. Mas a disputa cada vez mais acirrada pelo cliente demanda pesados investimentos em marketing e subsídios nos aparelhos, que oneram os resultados das operadoras. Além disso, as empresas registram perda de faturamento por assinante, resultado da maior presença do serviço pré-pago. Em 2003, o pré-pago respondia por 76,2% da planta. No final do ano passado, 80,5%. Na telefonia fixa, a Telefônica, por exemplo, em 2004 frente a 2003, registrou queda de 7,4% no tráfego do serviço local no que se refere aos chamados pulsos excedentes, aqueles que contam fora da assinatura básica. A receita no segmento cresceu 1,3% no ano passado, atingiu R$ 3,057 bilhões, mas, segundo informações do balanço da Telefônica o que pesou foram os reajustes tarifários. A Telemar e a Brasil Telecom (BrT) não divulgam dados de tráfego, mas essa última, por sua vez, apresentou, em 2004, queda nas linhas em serviço. Eram 9,851 milhões em 2003. Caíram para 9,503 milhões, em 2004. A empresa fez uma depuração da planta, cancelando 348 mil linhas no ano passado. A taxa de utilização da rede foi reduzida para 88,5% enquanto que em 2003 era de 92,2%, como demonstram os dados de balanço. O IBGE divulgou o número revisado do PIB acumulado de 2004, que passou de 5,2% para 4,9%. Segundo o instituto, a queda foi decorrente da revisão realizada pela Anatel na série de receita operacional líquida da telefonia móvel. Com a revisão, o subsetor comunicações apresentou queda de 1,4% em 2004, na comparação com o ano anterior. No ano passado, de acordo com os dados já atualizados, o crescimento da telefonia celular, medido pelo critério da receita operacional líquida, foi de 8,7%, expressivo, mas bem menor que o de 2000. Na telefonia fixa, os indicadores de 2004 foram majoritariamente negativos. Em 2004, a receita das três operadoras - Telemar, Brasil Telecom e Telefônica - cresceu 8,6% nos serviços de telefonia fixa nacional e 10,9% na internacional. Em parte, o resultado é explicado pela briga pelo consumidor e conquista de clientes da Embratel, diz Eduardo Tude, da Teleco. A Embratel, na comparação do primeiro trimestre de 2005 com igual período de 2004, registrou queda no tráfego de DDD de 10,3%, e de 6% e no DDI. De acordo com os dados do IBGE, dos três indicadores de produção computados para a composição do PIB em 2004, dois caíram. Os minutos falados na longa distância nacional caíram 8,8%. Na longa distância internacional eles cresceram 12%. Já no conjunto formado pelos pulsos excedentes às assinaturas, mais as próprias assinaturas, houve queda de 6,4%. O conjunto de tudo isso, mais o desempenho dos correios (cujo peso nas comunicações é inferior a 10%), é que resultou na queda de 1,4% no desempenho das comunicações no PIB do ano passado. O IBGE não revela o número exato, mas os primeiros dados da telefonia celular eram muito maiores, a ponto de gerar crescimento de 2% nas comunicações como um todo, em vez da queda depois constatada. A receita líquida das três principais concessionárias de telefonia fixa local cresceu 6,4% no primeiro trimestre de 2005 (1T05) quando comparada ao 1T04. Já a receita das operadoras de celular apresentou crescimento de 21,1% no período. Nos dados do PIB, o desempenho da telefonia neste primeiro trimestre, sobre igual período de 2004, ficou assim: a telefonia móvel cresceu 11%; minutos de interurbanos nacionais despencaram 18%; os minutos internacionais caíram 4%; e pulsos mais assinaturas perderam 1%. A receita bruta da telefonia fixa e celular em 2004 foi de R$ 100 bilhões, sendo a telefonia fixa responsável por 65% do total. A participação da telefonia celular evoluiu de 29%, em 2001, para 35%, em 2004.