Título: Bastos mergulha na cruzada anti-corrupção
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Política, p. A6

Crise Para ministro da Justiça, se CPI for instalada, deve se concentrar em aspectos técnicos, e não políticos

Numa ofensiva contra a idéia de que aumentou a corrupção no governo, percebida em pesquisas de opinião, o ministro da Justiça, Márcio Thomaz Bastos, aproveitou a divulgação da Operação Curupira, ontem, para defender que há um posicionamento firme, impessoal e apartidário do presidente Luiz Inácio Lula da Silva no combate à corrupção. Ele disse não temer a criação da CPI dos Correios, na qual dirigentes do PTB, partido aliado do presidente, teriam que responder a acusações de recebimento de propina e desvio de verba pública. Mas aproveitou para defender que a investigação parlamentar se concentre em aspectos técnicos, e não políticos. "Se for criada a CPI esperamos que ela não se desvie de seu objetivo", afirmou. Thomaz Bastos definiu a Operação Curupira, contra quadrilhas de exploração de madeira na Amazônia, como um momento de celebração do governo. "O fato é que o governo do presidente Lula não tolera nem transige com a corrupção, não olha para os partidos nem para as pessoas nas investigações. E hoje (ontem) estamos reunidos aqui para celebrar uma grande operação na luta contra a corrupção no governo federal", declarou o ministro. A Operação Curupira foi a maior já realizada pela Polícia Federal e resultou na prisão de pelo menos 89 pessoas, das quais 42 são empresários e 47 são servidores do Ibama. Ao todo, foram expedidos 129 mandados de prisão e identificadas 431 empresas fantasmas no comércio ilegal de madeira. Para desmantelar as quadrilhas que atuavam no desmatamento e exploração ilegal de florestas no Mato Grosso e na Amazônia foram deslocados 480 policiais federais para Cuiabá, ontem, quase 5% do efetivo total da corporação. Eles apreenderam 1,98 milhões de metros cúbicos de madeira, quantia suficiente para enfileirar 76 mil caminhões ligando o Rio a Brasília. O ministro da Justiça avaliou que o fato de as operações contra a corrupção terem aumentado criou um "subproduto" que é a visão pela opinião pública de que a corrupção está crescendo no país. Pesquisas de opinião divulgadas na semana passada mostraram que a avaliação positiva do governo caiu devido à percepção de que existe corrupção em várias áreas da administração federal. Para o ministro, esse crescimento da avaliação negativa por parte da população é uma conseqüência indesejada pelo governo de sua atuação na qual as denúncias não são escondidas, mas apuradas pelos órgãos competentes. "A cada semana temos uma operação distinta e isso está nos levando a uma grande vitória contra a corrupção. Mas também a um subproduto que é a idéia de que a corrupção está aumentando. Isso ocorre porque nada está sendo jogado para baixo do tapete", disse Thomaz Bastos. O Ministério da Justiça divulgou que a PF fez 45 operações especiais nos últimos dois anos, resultando na prisão de 1.234 pessoas, entre políticos, empresários, juízes, servidores e policiais. A ministra do Meio Ambiente, Marina Silva, afirmou que as quadrilhas de desmatamento existiam desde o início dos anos 90, mas só começaram a ser investigadas com rigor há dois anos e meio de trabalhos. Marina Silva explicou que não exonerou funcionários do Ibama após a divulgação do alto índice de desmatamento, há duas semanas, para não alertar os criminosos. Ela disse que teve que ouvir as críticas pelo desmatamento no Mato Grosso e se conter para não revelar a operação e estragar as investigações. "Vocês não sabem como é difícil, para alguém que tem uma função política, deixar de responder a queixas sobre o que estava sendo feito com relação ao desmatamento no Mato Grosso", desabafou Marina para jornalistas. O diretor-geral da PF, Paulo Lacerda, disse que a demora na investigação foi proposital para não alertar as quadrilhas do desmatamento. "Estamos mantendo a paciência necessária para investigar", explicou.