Título: Rebeldes do PT ajudam oposição a viabilizar investigação
Autor: Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Política, p. A7

O próprio PT começou a dificultar a estratégia do governo de derrubar de vez a Comissão Mista Parlamentar de Inquérito (CPI) dos Correios. Articulados pelo senador Eduardo Suplicy (PT-SP), o grupo de 12 deputados mais à esquerda do partido iniciou ontem negociações com a oposição para que se reforme o requerimento de criação da CPI, eliminando a alegada falta de foco nas investigações. A Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara analisa o recurso da inconstitucionalidade provavelmente na próxima semana. O objetivo dos 12 petistas é fazer com que a investigação prossiga. "Nossa proposta é focar a comissão apenas na apuração de denúncias de corrupção nos Correios e, por outro lado, pedir o compromisso dos deputados da oposição de não utilizar a CPI como palanque eleitoral", afirmou Chico Alencar (PT-RJ). Essa articulação ocorreu minutos após o grupo se encontrar com o líder do PT, Paulo Rocha (PA), que garantiu que não haverá punições para os deputados que assinaram a CPI. Ele disse que o acordo já estava fechado com o PFL e que procuraria o governo para também fechar o acordo. O presidente da CCJ, Antônio Carlos Biscaia (PT-RJ) e o relator do recurso, Inaldo Leitão (PL-PB), disseram que aceitam o acordo se ele for amplo. Alencar confirmou, contudo, que estava muito difícil de convencer o governo a aceitar sua proposta. O líder do PT, Paulo Rocha (PA), afirmou que ainda não havia sido informado sobre a proposta dos 12 deputados petistas e que, por isso, não poderia opinar. Os partidos de oposição também acharam positiva a saída, que só poderá vingar se contar com o apoio formal do governo. A avaliação geral da oposição, contudo, é que o governo não aceitará o acordo, mas será constrangido e ficará sem argumentação. O relator do recurso à CPI na CCJ disse que se o acordo for amplo a comissão poderá revisar o requerimento da CPI e acabar com a dubiedade na definição do fato determinado das investigações. A oposição, contudo, está reforçando o contra-ataque, caso perca na CCJ e no plenário do Congresso e a CPI seja considerada inconstitucional. Se isso ocorrer, poderá reforçar a estratégia de fazer a CPI apenas no Senado. Além da CPI dos Correios, senadores de oposição estão planejando mais três investigações: as CPIs dos Bingos, do IRB e da Petrobras. "O governo está míope, vai trocar uma CPI mista, que contará com a participação de deputados onde possui maioria, para ter CPIs exclusivas do Senado, onde a oposição garantiria os melhores postos nas investigações", afirmou um oposicionista. O líder do PSDB, Alberto Goldman (SP), afirmou que se realmente os deputados derrubarem a CPI mista os únicos que perderão serão o governo - que enfrentará mais CPIs no Senado - e os deputados, que ficarão com o ônus pela derrubada da investigação. Ontem, outro partido também enfrentou problemas com deputados que assinaram o requerimento para a criação da CPI. O PCdoB ficou dividido em sua reunião da executiva federal em punir ou não os seis deputados. Como até às 20h não se fechou uma posição, a reunião foi suspensa e deve ser concluída hoje. (Colaborou Maria Lúcia Delgado)