Título: Setor têxtil do sul da Ásia cresce na esteira da China
Autor: The Economist
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Internacional, p. A9

Enquanto a China briga com os EUA e a UE por causa do aumento de suas exportações de tecidos e roupas prontas, os países do sul da Ásia são muito mais do que apenas espectadores interessados. Como global traders, mesmo o maior deles, a Índia, parece raquítico diante da China. Mas a maioria desses países depende mais dos têxteis em sua pauta de exportações do que a China. Sendo assim, o fim das cotas internacionais de têxteis no começo do ano trouxe a esses países uma oportunidade - de exceder os níveis das cotas - e um risco - de perder mercado para um novo e forte competidor. Cinco meses após o início do novo regime de comércio, um de seus mais esperados efeitos, o grande "boom" de roupas chinesas nos EUA e na UE ocorreu de forma abrupta. Em outros mercados, o impacto foi menos dramático e as conseqüências de longo prazo são incertas. E em nenhum lugar mais incertas do que na Índia, onde o quadro geral é ainda mais nebuloso por causa da confusão de estatísticas. Dados oficiais indianos mostram que no primeiro trimestre as exportações de têxteis teriam despencado alarmantes 21%. Felizmente isso não parece ser verdade. R. Poornalingam, do Ministério dos Têxteis, afirma que as exportações na verdade cresceram 20% para os EUA e 10% para a UE, tanto em quantidade quanto em valor. Isso parece bem mais próximo dos dados dos países importadores. Mesmo assim, Poornalingam reconhece que a Índia não está indo tão bem quanto se poderia esperar. Sua indústria têxtil, ainda dominada pelas empresas pequenas, ainda não se aproveitou do mundo pós-cotas tanto quanto a China. Os compradores acabam não conseguindo fazer grandes pedidos por causa da falta de infra-estrutura. E as rígidas leis trabalhistas faz com que as empresas relutem em contratar para dar conta de apenas um grande pedido, pois seria muito difícil dispensar os empregados depois. Os partidos de orientação marxista que fazem parte da coalizão de governo no país vêm bloqueando a reforma trabalhista. Mesmo assim os empresários estão otimistas de que mudanças limitadas, especificamente na indústria de vestuário, possam ser adotadas. A indústria, que já emprega 30 milhões de pessoas na Índia, oferece exatamente o tipo de desenvolvimento de trabalho intensivo de que o país necessita. A mão-de-obra é mais barata - apesar de menos produtiva - do que na China. O país é um grande produtor de algodão e de fibras manufaturadas. Sendo assim, ele pode se tornar, como a China, uma potência têxtil verticalmente integrada. Por enquanto, ela responde por 5% das importações têxteis dos EUA, enquanto o China responde por 19%. Dos outros exportadores do sul da Ásia, apenas o Paquistão tem uma grande base de matérias-primas. Tendo investido US$ 4 bilhões nos quatro anos que antecederam o fim das cotas, a indústria lá está em boas condições para crescer. Sri Lanka e, especialmente, Bangladesh foram citados como vítimas dos efeitos colaterais causados pela invasão têxtil chinesa. Ambos têm importantes indústrias de vestuário em crescimento, voltadas para a exportação. Mas cresceram muito mais porque os americanos e europeus conservaram as importações de suas antigas cotas do que por quaisquer outras vantagens comparativas. Mesmo assim, no primeiro trimestre, as exportações dos dois países para os EUA cresceram 20%. O grande perdedor da região foi o Nepal: as exportações de vestuário para os EUA caíram 35%