Título: Dívida com Aerus pode ser trocada por ações
Autor: Vanessa Adachi
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Empresas &, p. B2

A proposta de converter uma parte da dívida da Varig com o fundo de pensão Aerus em ações ganhou fôlego com a chegada da equipe liderada por David Zylbersztajn e Henrique Neves à cúpula da empresa. Descartada pela antiga direção, essa possibilidade voltou a ser estudada. Não é algo para o primeiro estágio da reestruturação da companhia aérea, mas pode estar na fase intermediária do que Zylbersztajn chamou ontem de uma proposta com "início, meio e fim". O objetivo mais imediato da nova direção é capitalizar a Varig e reunir condições para a sobrevivência da empresa. Como não resulta em aportes novos, o processo de transformação da dívida com o Aerus - que pode chegar a R$ 2,2 bilhões - em participação acionária não é uma medida vista como urgente. Mas o novo comando da aérea mostrou disposição de negociar com os trabalhadores essa iniciativa. Zylbersztajn disse sucintamente que a proposta "é um dos atores" do plano de reestruturação. Três entidades - a Associação de Pilotos da Varig (Apvar), a Associação de Comissários da Varig (Acvar) e a Associação de Mecânicos de Vôo da Varig (Amvvar) - criaram no fim de 2003 uma sociedade limitada com capital social de R$ 4,5 mil, dividido em cotas semelhantes de R$ 1,5 mil. A sociedade de nada serviu no último ano e meio, mas a idéia alimentada agora por esses grupos é que ela sirva como uma espécie fundo de investimentos - o seu objetivo "único e específico" é participar "como acionista ou quotista" do controle da Varig, segundo o contrato social registrado no Rio de Janeiro. De acordo com Márcio Marsillac, vice-presidente da Apvar, a idéia é abrir um plano de adesão para os trabalhadores que desejem transformar seus créditos individuais em ações. Nos cálculos de Marsillac, é possível negociar deságio nos créditos, que somam R$ 1,1 bilhão. Essa medida, além de limpar o passivo da Varig, aliviaria o fluxo de caixa da empresa, que paga parcela mensal de cerca de R$ 7,5 milhões pela negociação da dívida com o fundo. Como tudo na Varig, essa eventual discussão também gera polêmica. A liderança dos trabalhadores é dividida pela Apvar com o Sindicato Nacional dos Aeronautas (SNA), que representa também pilotos e comissários, e o Sindicato Nacional dos Aeroviários, do pessoal de terra. Os dois últimos questionam a representatividade da Apvar para conduzir uma negociação desse tipo envolvendo o Aerus. A presidente do SNA, Graziela Baggio, defende uma solução que tenha como epicentro um aporte para a renovação da frota e a implantação das resoluções do Conselho Nacional de Aviação Civil, aprovadas há um ano e meio. Amiga íntima do presidente Luiz Inácio Lula da Silva, ela é uma das líderes mais respeitadas por executivos das empresas e no governo.