Título: Cooperativas se unem para ganhar escala
Autor: Patrick Cruz
Fonte: Valor Econômico, 03/06/2005, Finanças, p. C1

As cooperativas de crédito, que têm crescido com vigor desde o início dos anos 80, caminham gradativamente para um processo similar ao ocorrido no sistema financeiro: o de aglutinação por meio de fusões no setor. "No médio prazo, o número de cooperativas de crédito deverá ser metade do atual", diz Ênio Meinen, diretor vice-presidente do Sistema de Crédito Cooperati (Sicredi), que congrega mais da metade das quase 1.500 cooperativas de crédito do país. A busca por processos de união está ligada, entre outros fatores, à necessidade de ganho de escala trazida pela entrada mais forte dos bancos na concessão de microcrédito, segundo argumentos de membros de cooperativas apresentados ontem no "4 Seminário Banco Central sobre Microfinanças", que termina hoje em Salvador. Outra das razões é a necessidade que muitas entidades têm de cortes de custos, argumenta Marden Soares, consultor do Departamento de Organização do Sistema Financeiro do Banco Central. Nos últimos dez anos, conta Meinen, foram dez os processos de fusão ou incorporação de cooperativas ligadas ao Sicredi - essas operações chegaram a envolver até quatro cooperativas de uma única vez. Em 2005, a velocidade aumentou: a última fusão de cooperativas ocorreu em abril e envolveu as unidades Sicredi Jundiaí e Sicredi Bragança Paulista, que passaram a formar a Sicredi Sudeste Paulista. Outras duas vão formalizar a união ainda neste mês, também no Estado de São Paulo: Sicredi São João da Boa Vista e Sicredi Baixa Mogiana comporão nas próximas semanas a Sicredi Leste Paulista. Pelo menos outras três operações devem ocorrer até o final do ano. O processo de aglutinação, salienta Meinen, não significa perda de espaço do setor. O número de pontos de atendimento, hoje de 3.200, pode ultrapassar 3.500 até dezembro. "São menos matrizes, mas a estrutura se mantém. O princípio de uma cooperativa é ela estar próxima da comunidade", disse. Também não será uniforme: ainda há espaço para o surgimento de novas cooperativas nos centros urbanos, puxado por iniciativas de indústrias e entidades de classe. As fusões têm começado em cooperativas de cidades menores e áreas rurais. As cooperativas de crédito brasileiras têm 2,2 milhões de cooperados e US$ 7,573 bilhões em ativos, cerca de 2% do total de ativos do sistema financeiro. No seminário de Salvador, representantes de cooperativas de pequeno porte mostraram-se preocupados com a eventual necessidade de união com seus pares de maior porte - preocupação motivada por uma pretensa competição com o microcrédito oferecido pelas grandes redes bancárias. Representantes de classe, entretanto, se dizem mais otimistas com a tendência que começa a se desenhar. "A cooperativa acaba se tornando o banco local. O que interessa é que ela permaneça investindo no desenvolvimento da comunidade", diz Carlos Alberto dos Santos, gerente da unidade de acesso a serviços financeiros do Sebrae nacional. "A competição é salutar, há espaço para todo mundo nesse campo. Todos saem ganhando", diz Roberto Troster, economista-chefe da Federação Brasileira dos Bancos (Febraban).