Título: Limitação de recursos é arma de oposicionistas
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2005, Brasil, p. A3

A oposição promete travar uma batalha no Congresso contra as obras de transposição do São Francisco. Embora reconheçam a dificuldade em impedir o início da construção, os parlamentares acreditam que o caminho para barrar avanços no empreendimento passa pela limitação dos recursos autorizados para o projeto no Orçamento da União de 2006. O ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, afirma que pedirá cerca de R$ 2 bilhões para a transposição na proposta de lei orçamentária do ano que vem, a ser enviada ao Congresso até o fim de agosto. Neste ano, estão assegurados R$ 600 milhões. Segundo explicou o ministro, esses recursos não sofrem com o contingenciamento imposto pela equipe econômica, uma vez que se trata de um projeto de prioridade máxima para o governo. "Estamos jogando dinheiro fora em um projeto megalômano, que não encontra respaldo em nenhum acadêmico sério e em nenhuma instituição internacional de peso", protesta o deputado José Carlos Aleluia (PFL-BA), líder da minoria na Câmara. "Talvez este seja o maior dos erros do governo Lula em termos de alocação de investimentos. É preciso lembrar que a infra-estrutura brasileira está toda paralisada", afirmou. Para o deputado, a obra é tão defendida pelo presidente Lula devido à sua visibilidade eleitoral. Ele diz temer que, no futuro, o Nordeste seja criticado pela população do Centro-Sul por ter consumido recursos sem gerar resultados para minimizar os problemas da seca. Aleluia duvida das vantagens prometidas pela transposição, que o governo alardeia que beneficiará 12 milhões de pessoas e evitará a migração descontrolada para as cidades industriais do Sudeste. Por isso, alega o líder da minoria, deve-se evitar que a discussão em torno do Rio São Francisco seja polarizada entre Estados doadores e receptores de águas. Inevitavelmente, porém, esse tem sido até agora o tom da disputa. A polêmica chega a tal ponto que parlamentares da bancada governista que representam regiões doadoras ameaçam claramente votar contra o governo nas questões relacionadas à transposição. É o caso do deputado Heleno Silva (PL-SE), que, julgando que o empreendimento poderá aumentar a salinização na foz do rio, avisou que colocará os interesses estaduais acima da orientação partidária quando o assunto for a transposição. A falta de líderes ou porta-vozes claros, no entanto, é um dos principais obstáculos para o movimento contrário ao projeto. Os governadores dos Estados que se consideram prejudicados - Sergipe, Alagoas, Bahia e Minas Gerais - têm demonstrado pouca articulação e ainda não organizaram atitudes conjuntas. (DR)