Título: Construtoras do Nordeste temem não participar da obra
Autor: Daniel Rittner
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2005, Brasil, p. A3

As construtoras de pequeno e médio porte da Região Nordeste temem ficar de fora do processo de licitação das obras de transposição das águas do Rio São Francisco. Segundo os Sindicatos das Indústrias da Construção Civil (Sinduscon) dos Estados de Pernambuco e Ceará, a maneira como o edital foi montado não permite o acesso das pequenas e médias empresas da região. As duas instituições afirmam estarem tentando agendar uma audiência com o ministro da Integração Nacional, Ciro Gomes, para modificar o edital. O diretor de Obras Públicas do Sindicato das Indústrias da Construção Civil de Pernambuco (Sinduscon/PE), Gustavo Miranda, observa que, se o projeto contemplasse mais lotes do que os 14 previstos, existiria uma chance real para que as construtoras regionais também participassem da disputa. Inicialmente o edital previa consórcios com a participação de não mais que duas empresas, o que excluía as empreiteiras regionais. Diante das manifestações da categoria, essa questão foi revista, permitindo a formação de consórcios sem um número determinado de participantes. "O problema é que as exigências também foram modificadas de tal forma que a situação permaneceu a mesma, ou seja, dificilmente as empresas locais conseguirão se habilitar", diz Miranda. Segundo ele, a entrada de empresas locais permitiria uma melhor distribuição de renda e um maior aproveitamento da mão-de-obra regional. O alto valor das obras que serão realizadas em cada um dos lotes, avaliados entre R$ 147 milhões e R$ 303 milhões, está acima da capacidade econômica e financeira das construtoras regionais que, segundo a Lei de Licitações, teriam que ter um capital mínimo de 10% do valor da obra para participar. O diretor da Imobiliária Rocha, Antônio Cláudio, diz que a entrada das empresas regionais de médio porte no processo de licitação somente será possível mediante uma associação com grandes empresas nacionais. Uma outra empresa, a Flamac Incorporação e Construção também está tentando se consorciar com outras empresas regionais. "Mas estamos muito distantes da realidade do edital. Agregar um grande número de pequenas e médias empresas, cada uma com uma vocação própria, dentro dos prazos do edital é quase impossível. Seria mais fácil e lógico o projeto contemplar obras específicas", avalia o diretor- comercial, Flávio Magalhães. O presidente do Sinduscon/CE, Carlos Fujita, também avalia que o edital alija do processo as empresas regionais. "Essas obras devem contemplar as grandes empresas sim, mas também devem dar chances para que as de médio porte também possam participar." O diretor de obras da Construtora Marquise, Aristarco Sobreira, diz que o desmembramento do edital com a criação de um número maior de lotes resultaria na participação de um número maior de empresas, elevando o nível técnico das construtoras regionais. As empresas baianas também manifestaram interesse em participar das obras de transposição do São Francisco, embora não tenham se mostrado eufóricas com o edital do projeto. Jorge Goldenstein, diretor-presidente da Jotage Engenharia, diz que a empresa vai examinar o edital mais detalhadamente ao longo desta semana, mas, segundo análise prévia feita pela companhia, os lotes estão muito grandes. Isso, segundo o setor, pode acabar inviabilizando a participação de construtoras de pequeno e médio portes. "Do jeito que está o edital, está muito complicado", disse. A Jotage também está buscando informações com deputados baianos para saber mais detalhes sobre o andamento do projeto - Goldenstein teme que as obras não comecem no prazo estipulado pelo governo. Na Construtora NM, a opção também foi por manter cautela em relação às obras, mesmo com o interesse prévio em participar do projeto. Foram organizados grupos de trabalho para estudar o edital, segundo o diretor Osvaldo Nobuhiro. "Interesse na obra todo mundo tem, mas vamos ver como será melhor. Há várias alternativas para participar", disse. A mineira Construtora Cowan é uma das empresas que pretendem participar da licitação. "Mas ainda temos de estudar o edital, as condições técnicas e financeiras, para ver se vamos poder participar", explicou José Sanab, responsável pela análise das concorrências na construtora. A empresa, que já participou de inúmeras obras públicas, tem hoje concessões na áreas de saneamento e rodovias no Rio de Janeiro e no Paraná. A direção da Andrade Gutierrez preferiu não comentar se pretende participar da licitação da transposição. O diretor vice-presidente da empresa, João Ricardo Auler, disse apenas que a obra tem o "perfil da empresa". (Colaborou Paulo Henrique de Sousa, de São Paulo)