Título: Banco quer alavancar indústria local
Autor: Sergio Leo
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2005, Brasil, p. A4

Convencido de que o Brasil vive " nova rodada de renovação de máquinas e equipamentos", semelhante à ocorrida nos anos 90, o Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) busca uma aproximação entre os compradores de bens de capital, como a siderurgia e a petroquímica, e os fabricantes desses bens. O objetivo é criar estímulos, em custos e prazos de financiamento, para que as máquinas sejam adquiridas, preferencialmente, no mercado nacional. "Há uma nova rodada de renovação de máquinas, na qual a referência inevitável é a China", disse ao Valor o diretor de planejamento do banco, Antonio Barros de Castro. Segundo Castro, acontece hoje no Brasil um fenômeno que se caracteriza pela "perda da capacidade de distinguir entre problemas conjunturais e quadros estruturantes". Sem negar que o câmbio sobrevalorizado e os juros elevados estejam influindo nas decisões de investimento das empresas - "o câmbio aumenta o medo dos custos fixos" -, o diretor do BNDES vê dois aspectos estruturais que, na realidade, serão balizadores de decisões de investimento em máquinas e equipamentos daqui por diante: a inovação tecnológica e a vocação para o agronegócio. No aspecto da inovação, Castro disse que um estudo ainda inédito do Instituto de Pesquisa Econômica Aplicada (Ipea) revela que as cerca de 1.200 empresas brasileiras que inovam estão obtendo "prêmios" de preços de 30% e estão passando por cima de vulnerabilidades conjunturais. Quanto ao agronegócio, Castro ressalvou que não se trata de dizer que o Brasil vai se transformar em país agrícola. O fato, segundo ele, é que o domínio tecnológico alcançado, e as possibilidades de expansão física que o país dispõe, fazem com que ele deva ser o balizador da expansão industrial futura. O banco trabalha com a convicção de que não se deve deixar unicamente com o mercado a tarefa de levar a economia para a direção desejada, e a certeza de que as inversões em máquinas e equipamentos permitem elevação "paulatina" da taxa de investimento. O superintendente da área de operações indiretas do BNDES, Claudio Bernardo de Moraes, disse que as conversações com os fabricantes e os compradores de bens de capital se estendem há alguns meses. Moraes lembrou que o BNDES já opera uma linha, a Finame Concorrência Internacional, que permite igualar as condições dos fabricantes nacionais de máquinas e equipamentos com seus pares estrangeiros em vendas no exterior. A intenção é criar estímulo semelhante para as vendas de bens de capital no mercado interno. Flávio Castello Branco, coordenador de política econômica da Confederação Nacional da Indústria (CNI), considera importante a inciativa do BNDES de alavancar a indústria nacional de bens de capital, e avalia que os maiores gargalos para o investimento industrial estão na oferta, no custo e nos prazos dos financiamentos. "É preciso anular essas desvantagens competitivas em relação aos fornecedores internacionais", argumentou. Para o presidente da Associação Brasileira da Indústria de Máquinas (Abimaq), Newton de Mello, a situação conjuntural vai barrar o sucesso da iniciativa. "Com esses juros e esse câmbio, os esforços do BNDES não terão qualquer efeito", afirmou, ressalvando que a atual gestão do banco estatal possui visão adequada de política industrial e está empenhada na busca de soluções. "Agora, não adianta chegar para quem não quer comprar com o melhor preço e as melhores condições de financiamento." O presidente do Sindicato Nacional da Indústria da Construção Pesada (Sinicon), Luiz Fernando Santos Reis, ponderou que para haver investimento em equipamentos é preciso que haja grandes projetos de obras em carteira, o que até agora não se materializou. Dados do banco indicam que de janeiro a abril as aprovações de financiamentos no conjunto da Finame, que inclui bens de capital sem e com rodas e o Modermaq, cresceram de forma generalizada. Os empréstimos da Finame para o segmento de couros, artefatos e calçados cresceram 228% no primeiro quadrimestre na comparação com igual período de 2004. No setor de alimentos, o aumento foi de 114%; em borracha e plástico, 144%; na química, 173%; e na construção pesada, 347%. Outra iniciativa do BNDES para alavancar a demanda por bens de capital é o plano de nacionalização de equipamentos. Ele consiste em financiar setores que deixaram de produzir no país, como a indústria de locomotivas, que podem começar a operar com índices menores de nacionalização, mas comprometendo-se a chegar ao índice mínimo utilizado na Finame, de 60%.