Título: Correntes de esquerda estão longe da ruptura
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2005, Política, p. A10

Partidos Radicais petistas ainda mostram compromisso com Lula em 2006

Fortemente divergente em relação à política econômica e de alianças no Congresso feitas pelo governo federal, as correntes de esquerda do PT estão longe da ruptura com o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. As principais teses apresentadas pelas candidaturas de oposição ao presidente do partido, José Genoino Neto, na eleição direta que o partido irá realizar em 18 de setembro ainda se comprometem com o projeto de reeleger Lula e atacam o PSDB e o PFL. Indicam que a rota de saída da sigla ainda não é uma opção dos radicais. A tese do candidato da Articulação de Esquerda, Valter Pomar, "A Esperança é Vermelha"une por exemplo o desgaste do governo federal junto às elites empresariais, movimentos sociais e classe média em uma "estratégia trifásica da direita", concebida no primeiro ano do governo. Por esta estratégia, o PSDB e o PFL pouparam o ministro da Fazenda Antonio Palocci, que representaria a continuidade do governo Lula e fizeram o ataque em três frentes: o presidente foi caracterizado como subversor da ordem junto ao patronato, traidor das bandeiras tradicionais junto aos movimentos e cercado por corruptos junto aos setores médios. Dentro desta última linha de ataque, de acordo com o documento, " atribui-se ao PT a responsabilidade por atos de pessoas que são de outros partidos", em uma alusão ao escândalo que serve de detonador para a CPI dos Correios, envolvendo servidores vinculados ao PTB. De acordo com a tese de Pomar, caso a estratégia trifásica não impeça Lula de se reeleger, poderia levá-lo a fazer muitas concessões para obter um segundo mandato, tornando pior para a esquerda a correlação de forças. Diagnóstico semelhante é traçado pela tese "Coragem de Mudar", da Democracia Socialista, cujo candidato é Raul Pont. "Vem ocorrendo um forte reagrupamento das forças conservadoras em torno do PSDB. A grande imprensa é seu maior palco. Com defesas restritas à política econômica , o resto do governo é acusado de tudo", afirma o documento, concluindo que "dizer que o governo Lula é igual ao de Fernando Henrique Cardoso é fechar os olhos à realidade". Até mesma a mais radical de todas as tendências, a trotskista "O Trabalho", de Markus Sokol, que apresentou a tese "Terra, Trabalho e Liberdade", mostra compromissos com o projeto eleitoral de Lula. O documento condena a formação de novos partidos de esquerda, como o PSTU e o PSol e afirma: "ainda é tempo do governo Lula mudar de política". O tom de desencanto é mais forte na tese "Esperança Militante", cujo candidato é Plínio de Arruda Sampaio. "O governo optou pelo continuísmo da política econômica, muitas vezes mais ortodoxa do que no governo FHC. Apontou-se a necessidade de um período de transição, mantendo elementos centrais da política anterior. Mas logo ficou claro que a política comandada pelo ministério da Fazenda e pelo Banco Central não é só definitiva, mas abançoada como única possível", diz o texto. O manifesto ainda acrescenta que o governo Lula fez uma "relegitimação do projeto derrotado em 2002". O texto da candidatura de Plínio pondera, entretanto, que é possível tentar "restaurar a credibilidade do governo junto ao povo e criar condições novas para disputar em 2006". Tendência centrista, o grupo Movimento, da candidata Maria do Rosário, também mostra compromisso com a defesa do governo. "A oposição deixou claro qual será sua estratégia : antecipar o debate eleitoral. E o objetivo claro é precipitar um clima de confronto entre Lula e o PT", afirma o documento.