Título: Brasil reage à proposta dos EUA para monitorar democracia na AL
Autor: Tatiana Bautzer De Fort Lauderdale
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2005, Internacional, p. A11

O Brasil e outros países da América do Sul tentarão bloquear na reunião da Organização dos Estados Americanos (OEA) a proposta dos EUA de criar mecanismos de monitoramento da democracia na região. O ministro das Relações Exteriores, Celso Amorim, disse que uma proposta alternativa começou a ser discutida ontem na Aladi (Associação Latino-americana de Integração). A Aladi tentaria um consenso com o Caribe e a América Central contra a proposta americana. O secretário-geral da OEA, Jose Miguel Insulza, defendeu na abertura da reunião que os membros entrem em acordo sobre mecanismos para implementar os princípios democráticos. Os EUA querem um mecanismo de monitoramento com avaliações anuais, e incluíram no rascunho da declaração da Flórida que os líderes que não "governem democraticamente (...) sejam responsabilizados" e que sejam aplicadas medidas concretas em situações de ameaça à democracia. A proposta é vista como casuística, para tentar interferir no governo de Hugo Chávez, da Venezuela. A secretária de Estado, Condoleeza Rice, defendeu a proposta ao chegar à Assembléia da OEA. "Não é uma questão de intervir para punir. É uma questão de intervir para tentar e sustentar o desenvolvimento das instituições democráticas na região". A Venezuela protestou contra a proposta. O ministro Celso Amorim disse que o Brasil está examinando a proposta americana e descreveu a contraproposta na Aladi. "Queremos fortalecer a democracia na região, mas queremos evitar mecanismos intrusivos". A idéia, segundo fontes diplomáticas, é evitar casuísmo e encontrar uma maneira de aumentar o envolvimento da OEA com a democracia, sem prejudicar a proibição a intervenções que firam a soberania dos países. Depois da abertura da reunião de ontem, o ministro encontraria os chanceleres da Venezuela (Ali Rodriguez), da República Dominicana e Nicarágua. Segundo a agência de notícias AP, Chávez reagiu à proposta americana afirmando que "os que pensam que podem colocar os povos da América Latina num curral estão enganados". Ele vem ameaçando cortar relações com os EUA- a Venezuela é o terceiro maior vendedor de petróleo ao país. No discurso na abertura da reunião, Rice novamente disse que "os líderes eleitos devem governar democraticamente. E governos que não o façam tem que responder por isso à OEA". Ela afirmou que a divisão na América Latina hoje "não é entre governos de esquerda e direita, mas entre os que governam democraticamente e os que não o fazem". Numa entrevista ao jornal "The Miami Herald", a secretária de Estado citou o Brasil e o presidente Lula como exemplos de governo de esquerda que mantém o compromisso de governar de maneira democrática. Uma das propostas americanas é dar mais espaço a entidades da sociedade civil. A reunião da OEA também deve discutir a questão do Haiti. Rice afirmou que talvez seja necessário aumentar o tamanho da força policial no país como preparação para as eleições- hoje são 4.700 soldados liderados pelo exército brasileiro. O Brasil está tentando renovar o mandato para continuar a missão de paz da ONU por mais um período. O jornal americano "The Washington Post" afirmou ontem em editorial que a missão fracassou e que não haverá progresso sem a presença de tropas dos EUA.