Título: Crédito é pequeno para gerar inflação
Autor: Catherine Vieira
Fonte: Valor Econômico, 06/06/2005, Finanças, p. C1

A expansão do crédito, principalmente para pessoas físicas, tem sido apontada como o vilão dos índices de inflação que insistem em permanecer em patamares elevados apesar das elevações da taxa básica de juro pelo Comitê de Política Monetária (Copom). Ma há quem discorde da tese. Para alguns economistas, como Nelson Rocha Augusto, presidente da BB DTVM, e Carlos Thadeu de Freitas, do Ibmec, a inflação vem persistindo em função dos preços elevados de commodities como o aço, que pressiona setores da indústria, e ainda pelos preços administrados. Os dois economistas também concordam que os próximos números divulgados já devem mostrar tendência de queda da inflação, o que abre espaço para queda dos juros. Rocha Augusto, da BB DTVM, argumenta que o nível de crédito da economia brasileira ainda é baixo se comparado ao de outros países emergentes. "Muitos estão já no patamar de 70% do PIB enquanto o Brasil ainda está em 27%, sem somar as emissões da CVM, o que elevaria para cerca de 32% e ainda é muito pouco", afirma Augusto. Para ele, os números mais recentes da economia divulgados comprovam que os financiamentos não são a causa da inflação. "O setor de eletroeletrônicos, por exemplo, que seria um dos mais influenciados pelo financiamento a pessoas físicas, teve um crescimento de apenas 2%, o que é pouco." O executivo da BB DTVM admite, no entanto, que o ritmo de expansão dos financiamentos pode estar muito acelerado. "Isso talvez possa ter causado algum efeito na inflação, mas menor, seguramente não está entre as causas principais", disse. O economista do Ibmec e ex-diretor do Banco Central Carlos Thadeu de Freitas concorda com a visão de Augusto. "O crédito não é o culpado. A inflação não está ocorrendo pela demanda, mas sim por um choque de oferta que ocasionou a alta nos preços de algumas commodities", diz. Freitas também avalia que a velocidade do crédito possa estar exercendo um impacto secundário. "Realmente, um crescimento de 100% do crédito em folha em um ano é muito rápido, mas não é o principal fator", diz. Por isso, para ele, o governo vem mantendo uma resistência em reduzir as taxas de juros que já é desnecessária.