Título: BNDES e IBGE discordam sobre PIB do 1º tri
Autor: Chico Santos
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Brasil, p. A3

Conjuntura Diretor do banco considera "estranhíssimo" impacto de serviços no desempenho da economia

O Banco Nacional de Desenvolvimento Econômico e Social (BNDES) e o IBGE não estão de acordo em relação aos números do Produto Interno Bruto (PIB) do primeiro trimestre deste ano divulgados na semana passada pelo órgão estatístico oficial. O diretor de Planejamento do banco, Antonio Barros de Castro, disse ao Valor ter considerado "estranhíssimo" que setores econômicos aparentemente sem motivos para terem perdido produção, como comunicação e administração pública, tenham influenciado negativamente no desempenho global da economia, contribuindo para que o consumo das famílias tenha sofrido queda de 0,6% em relação ao trimestre anterior. "A ampliação do emprego, da massa salarial e do crédito não apontavam nessa direção", disse Castro a respeito da queda do consumo das famílias. Acrescentou que um estudo que fez, em colaboração com o Instituto de Economia da Universidade Federal do Rio de Janeiro (UFRJ), do qual foi diretor, mostrou que "é preciso cuidado com essa informação". Segundo Castro, o PIB pela ótica da demanda, no qual aparecem o consumo das famílias, do governo, investimentos, exportações e importações, é uma espécie de contrapartida da oferta (agropecuária, indústria e serviços). "Essa informação (do consumo) não é medida diretamente, o que se mede na realidade é a oferta. Se você subestima a oferta, a demanda é comprimida artificialmente", observou. Dentro dos serviços, que cresceram 2% sobre o primeiro trimestre do ano passado, mas caíram 0,2% em relação ao trimestre anterior (com ajuste sazonal, estão os dois itens que intrigaram o diretor do BNDES: comunicações e administração públicas, que juntos são responsáveis por 19% do PIB total (3% das comunicações e 16% da administração pública). As comunicações caíram 3,2% e a administração pública cresceu apenas 0,2% sobre o mesmo trimestre do ano anterior. No acumulado em 12 meses, o primeiro item caiu 1,8%, e o segundo cresceu só 0,4%. Segundo Castro, as comunicações vinham crescendo em média 12% ao ano no segundo governo Fernando Henrique Cardoso, e a administração pública cresce, em média, 1,6% ao ano. "Já foi detectado que comunicação teve um desempenho (no PIB) estranhíssimo no governo Lula", disse. Na administração pública, cuja medida nas contas nacionais é dada pela burocracia pública como um todo, mais as matrículas na rede pública de ensino fundamental e médio e também as internações e atendimentos ambulatoriais nos hospitais públicos, o diretor do BNDES disse que não aconteceu nada de extraordinário que justificasse tanta perda de desempenho. Segundo ele, com desempenho normal de administração pública, o PIB nos 12 meses fechados em março teria crescido 5,2%, e não os 4,6% anunciados. O IBGE discorda dessa avaliação. "A parte de comunicação a gente já falou, mas sabemos que é difícil as pessoas entenderem", disse Rebeca Palis, gerente do PIB trimestral do instituto. Segundo ela, não só a telefonia móvel (35% da telefonia, que por sua vez é cerca de 90% das comunicações) não está crescendo no ritmo do começo da década, como a telefonia fixa (65% da telefonia total) está em queda. No ano passado, a telefonia móvel cresceu 8,7%. Na fixa, o interurbano nacional caiu 8,8%, o internacional cresceu 12% e os pulsos locais (mais assinaturas) caíram 6,4%. No primeiro trimestre deste ano, a móvel cresceu 11%, o interurbano nacional caiu 18%, o internacional, 4% e os pulsos, 1%, segundo o IBGE. Na administração pública, Rebeca disse que a medida da burocracia geral tende a ser realmente próxima ao crescimento populacional (hoje, perto de 1,2% ao ano), mas as matrículas, internações e atendimentos ambulatoriais têm mostrado tendência de queda. Em 2004, as matrículas caíram 3%. Para o primeiro trimestre, elas foram projetadas com queda menor, mas mantendo a tendência. "As famílias consomem serviços. Se os serviços caem, isso se reflete no consumo das famílias", resumiu.