Título: CNI registra estabilidade na indústria em abril
Autor: Arnaldo Galvão
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Brasil, p. A3

As horas trabalhadas na indústria cresceram 3,48% em abril em relação ao mês anterior, após ajuste sazonal. Esse foi o destaque dos indicadores do setor divulgados ontem pela Confederação Nacional da Indústria (CNI). As outras medições - vendas reais (0,13%), pessoal empregado (0,49%), salários reais (menos 0,05%) e capacidade instalada (82,1%) - ficaram praticamente estáveis no mês, sempre em comparação ao mês de março na série com ajuste sazonal. Na análise da CNI, o emprego industrial ainda cresce, mas com "perda de ímpeto". Na série histórica com ajustes sazonais, o indicador de pessoal empregado na indústria vem registrando variações positivas consecutivas desde janeiro de 2004 Os economistas da CNI Renato da Fonseca e Paulo Mol disseram ontem que "não há um quadro de recessão, mas a economia está desacelerando". A base dessa conclusão é a variação dos indicadores industriais a partir do último trimestre de 2004. Eles explicam que as variações referentes a abril e ao primeiro quadrimestre ainda são positivas em relação ao ano passado. Fazendo a comparação entre os primeiros quadrimestres de 2005 e 2004, os indicadores da CNI revelam que houve crescimento em vendas (2,64%), emprego (6,85%), horas trabalhadas (7,08%) e salários (9,02%). Movimento positivo semelhante ocorre quando comparados os indicadores de abril com os do mesmo mês de 2004. As variações foram de 2,92% (vendas), 6,56% (emprego), 9,06% (horas trabalhadas) e 8,68% (salários). A queda da rentabilidade também vem prejudicando bastante a realização de investimentos voltados para as exportações. "O ímpeto de buscar novos mercados no exterior está sendo afetado e as vendas externas devem se reduzir em 2006 e 2007", disse Fonseca. Os juros básicos, disse Mol, já tiveram acréscimo de 3,75 pontos percentuais desde setembro de 2004. E o câmbio já teve mais de 17% de valorização desde junho de 2004. Em abril, a variação foi positiva em 5%. Portanto, a valorização do real em relação ao dólar é considerada "muito forte" para a CNI. Mol explicou que o indicador de horas trabalhadas na produção registrou em abril crescimento acima do esperado (3,48%), mas é cedo para afirmar que essa é uma tendência. Segundo o economista da CNI, horas trabalhadas e vendas reais apresentam comportamento oposto. Uma explicação é o fato de as exportações estarem ainda impulsionando as horas trabalhadas, apesar de o câmbio estar reduzindo o faturamento em reais. Outra hipótese, menos provável, é a formação de estoques a partir de algum erro de percepção dos empresários, o que pode indicar queda na produção industrial nos próximos meses. A CNI esclareceu que o indicador de vendas reais não mede quantidades produzidas pela indústria, mas corrige o faturamento pelo Índice de Preços no Atacado (IPA). Isso acaba refletindo uma variação negativa das vendas reais. Mas Fonseca garante que os relatos dos empresários da indústria vêm no sentido de "haver sérios problemas em continuar produzindo com a atual margem de lucro". Quanto ao pessoal empregado na indústria, a CNI informa que o ritmo de crescimento vem caindo e já é metade do que foi registrado em 2004. "As perspectivas de médio e longo prazo ainda são positivas", disse Mol. Os salários líquidos também vêm mostrando menor crescimento desde o fim do ano passado. Já a capacidade instalada da indústria está com nível considerado alto pela CNI e é recorde para os meses de abril (82,1%), na série com ajuste sazonal. Os dois economistas acreditam que o ciclo de elevação dos juros está no fim. A CNI também informou que vai divulgar uma nova perspectiva de crescimento industrial. Em março, a estimativa era de 4,7% para 2005, mas ela deverá ser revisada para baixo.