Título: Desaceleração é processo "normal", diz Meirelles
Autor: Alex Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Brasil, p. A3

O presidente do Banco Central, Henrique Meirelles, disse ontem que é comum países apresentarem desaceleração na expansão do Produto Interno Bruto (PIB), como a verificada no primeiro trimestre de 2005. "Não existe crescimento linear", disse. "Os dados do PIB levantaram questões sobre até que ponto esse 0,3% significaria um potencial problema para o país", disse Meirelles, que participou ontem do evento Agenda Goiás, promovido pelas Organizações Jaime Câmara, proprietário de jornais e emissoras no Estado. Para ele, o dado importante é que a economia entrou no oitavo trimestre consecutivo de crescimento. "Tivemos trimestres com crescimento mais acentuado, outros menos. O importante é que segue uma tendência de crescimento sustentado." Meirelles assinalou que o uso da capacidade instalada, que atingiu seu pico no segundo semestre de 2004 - desencadeando receios do BC com pressões inflacionárias decorrentes de excesso de demanda -, voltou a cair neste início de ano. "Significa que há investimentos que ampliam a capacidade produtiva", disse ele. Meirelles sinalizou, entretanto, estar satisfeito com o ritmo atual de crescimento, ao exibir um gráfico que dizia que "o PIB continua crescendo em 2005, a um ritmo mais condizendo com o crescimento da capacidade produtiva da economia". No momento de sua palestra, os mercados financeiros registravam forte queda em virtude dos ruídos causados pela entrevista do presidente do PTB, Roberto Jefferson (RJ), à "Folha de S. Paulo", denunciando esquema de pagamento de "mesada" aos deputados que votam com o governo. Meirelles havia prometido uma entrevista após o evento, mas não a concedeu. O presidente do BC disse, na palestra, que, embora normalmente o emprego registre queda sazonal no início do ano, os dados divulgados pelo Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE) mostraram que a taxa de desocupação neste começo de 2005 estava abaixo dos patamares observados em anos recentes. Para ele, graças à expansão do emprego e da renda, o crescimento está cada vez mais apoiado em mecanismos de autopropagação -- ao contrário do que se observou entre o fim de 2003 e o começo de 2004, quando o principal fator foi o crédito.