Título: PT defende Delúbio e tenta isolar Jefferson no PTB e na base aliada
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A5

Em uma reunião que se iniciou às 7h30 e que se arrastou tarde adentro, a cúpula do PT decidiu tratar as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson de que haveria um esquema de subvenção mensal a deputados da base aliada como um gesto desesperado de quem se sente isolado, sem garantir a sustentação do governo no Congresso. Na avaliação que os petistas procuraram tornar pública, a própria entrevista de Jefferson isentaria o governo de responsabilidade em eventuais delitos e deve levar o dirigente fluminense a ser destituído do comando de seu partido. "O Roberto Jefferson não tem nada a ver com o PTB. Até quando ele ficará presidente do partido? Ele está atirando para tudo quanto é lado para tentar se safar", afirmou o ex-presidente da CUT João Felício, um dos integrantes da Executiva, no término do encontro. Para o presidente da sigla, José Genoino, "o PT continua confiante na relação institucional com muitos dirigentes do PTB e com grande parte da sua bancada". Genoino classificou as acusações contra o tesoureiro do partido, Delúbio Soares - presente à reunião - como "infundadas" e reiterou a tese de que as ondas de acusações de corrupção contra integrantes do governo e aliados delimitaram qual a base aliada existente no Congresso: "O termômetro da base é o requerimento da CPI e portanto contamos com 280 aliados na Câmara". Os integrantes das correntes radicais membros da direção nacional do partido também procuraram delimitar as dimensões da crise. "Este caso não apresenta risco para o governo. O alvo não é o presidente Lula, é o PT, como o deputado Jefferson procurou deixar claro em sua entrevista", disse um dos vice-presidentes da sigla, Valter Pomar, da corrente Articulação de Esquerda. Presente à sede nacional do PT para participar de uma reunião da executiva estadual, o deputado Devanir Ribeiro -um dos mais próximos ao presidente Lula - apostou que Jefferson poderá ser o único atingido: "Esta não é uma crise do governo, é a mais grave crise dentro do Congresso desde as eleições, porque envolve também o PP e o PL, não apenas nós. Ou o Jefferson prova o que diz, ou será cassado". Logo no começo do encontro, a direção do partido divulgou uma nota de esclarecimento, assinada pelo presidente do partido, em que este afirma: "O PT, a exemplo de outros partidos da base do governo, apóia todas as investigações em curso feitas pela Polícia Federal, pelo Ministério Público, pela Controladoria Geral da União e por outras instituições, ressalvando a presunção de inocência de todos os envolvidos, mas com a convicção de que os culpados deverão ser punidos". Genoino descartou completamente a possibilidade do partido reconsiderar a sua obstrução a uma CPI. "Para nós, a CPI é uma agenda da oposição para atacar o governo", sintetizou. Segundo o dirigente, o partido poderá tomar medidas judiciais para se defender. "A questão da mensalidade vai ser investigada pelos instrumentos da Polícia, do governo e da Câmara. No nosso governo, nada fica sem investigação", declarou. No Rio, o deputado federal Chico Alencar (PT-RJ) defendeu uma investigação minuciosa das denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o pagamento, pelo PT, de mesadas a parlamentares. Segundo ele, o petebista "está num desespero de afogado" por causa de uma série de denúncias que vieram à tona na imprensa envolvendo seu nome. "O Roberto Jefferson não tem lá muita intimidade com a verdade. Mas suas declarações devem ser ponderadas", disse. Como membro do Conselho de Ética da Câmara, Alencar, que declarou nunca ter ouvido falar sobre o pagamento da mesada aos deputados, nos corredores da Câmara dos Deputados, defende que seja aberto um processo para investigar as denúncias de Jefferson. (Colaborou Janaina Vilella, do Rio)