Título: Governo teme que crise afete a economia
Autor: Claudia Safatle
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A4

A crise política provocada pela suposta corrupção nos Correios e agravada, ontem, pelas denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) sobre o também suposto pagamento, pelo Partido dos Trabalhadores (PT), de uma "mesada" de R$ 30 mil a parlamentares da base aliada, ocorre num momento de expectativa de inflexão da economia. Ou seja, após o desaquecimento do nível de atividade no primeiro trimestre deste ano - cujo crescimento foi de apenas 0,3% sobre o último trimestre de 2004 - e da confirmação de que a inflação finalmente começa a ceder, seria a hora de iniciar um período de notícias melhores, como a interrupção do processo de elevação da taxa básica de juros neste mês. E, tudo dando certo, aguardar o início dos movimentos de queda da taxa Selic para agosto ou setembro. Seguindo uma agenda de normalidade, isso permitiria um crescimento econômico este ano de uns 3% e um desempenho melhor em no próximo ano, de campanha presidencial. Ontem, pela primeira vez nas últimas semanas, desde que começaram as denúncias de corrupção em empresas públicas, como Correios e o IRB, o mercado financeiro mudou os preços dos ativos - com queda substancial nos ativos de risco e desvalorização do real - num ensaio de alteração de humor. Na avaliação do diretor de um grande banco de investimento o mercado, até agora, não considerava a hipótese de uma turbulência política de graves proporções e via, na medida do enfraquecimento do governo Lula, a possibilidade de um candidato do PSDB à presidência da República ir para o segundo turno. Portanto, a crise que começou há três semanas estaria trazendo junto aos elementos negativos, uma perspectiva positiva, na ótica dos sempre conservadores analistas de mercados. A entrevista de Roberto Jefferson, publicada na edição de ontem do jornal "Folha de São Paulo", contudo, abalou essa visão. Os desdobramentos da questão política colocam, a partir de agora, receios e incertezas que podem ou não mudar as expectativas econômicas. Isso dependerá da capacidade do governo de lidar com a situação. Essa é a preocupação do comando da política econômica oficial que, no entanto, não tinha claro, ontem, que estratégia seguir para proteger a economia real do eventual agravamento das turbulências político-partidárias. A conduta dos gestores da política econômica tende a ser a de, nesses momentos, mexer o mínimo possível no painel da macroeconomia e produzir o mínimo possível de marolas, até porque não se sabe ao certo o que poderá acontecer mais à frente. Nessa linha, por exemplo, se Lula pretendia mudar o presidente do Banco Central, hoje tudo indica que Henrique Meirelles ganhou uma sobrevida.