Título: Partido age para afastar tesoureiro da imprensa
Autor: César Felício e Cristiane Agostine
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A4

Tesoureiro partidário pouco discreto em comparação com os de outros partidos, Delúbio Soares submergiu ontem durante a reunião da Executiva Nacional do PT que discutiu as denúncias do presidente do PTB, Roberto Jefferson, que o envolvem diretamente com a suspeita de pagar uma subvenção mensal a um grupo de deputados. O tesoureiro não foi visto entrando ou saindo da sede nacional do partido durante o longo encontro que começou às 7h30 da manhã e terminou no fim da tarde. Uma possível operação de despiste para a saída de Delúbio do prédio, às 15h, causou tumulto entre os fotógrafos. Exatamente no mesmo instante em que o presidente do PT paulista, Paulo Frateschi, apareceu no saguão da entrada da sede e atraiu os jornalistas para uma entrevista, um carro preto com vidros envolvidos em película escura saiu velozmente do prédio, acompanhando por dois motociclistas que serviam como batedores, impedindo a perseguição. Segundo um dos seguranças do partido, Delúbio estaria inclinado em um dos bancos. A informação não foi confirmada nem pelos dirigentes do PT, nem pela assessoria do partido, que garantiram que o tesoureiro permaneceu no prédio até o fim da reunião. Goiano de Buriti Alegre, uma pequena cidade em que se empenhou sem sucesso em eleger o irmão como prefeito no ano passado, Delúbio tentou uma única vez o caminho das urnas, em 1982, quando foi derrotado para deputado federal. Antes do governo Lula, destacou-se na burocracia partidária, mas para o ano que vem, não escondia de seus colegas de partido que tentaria novamente um mandato eletivo. Incentivava o partido a negociar tanto com o PMDB no Estado quanto com o PSDB. Há cinco anos à frente do caixa do PT, o homem de confiança do presidente Luiz Inácio Lula da Silva e do ministro da Casa Civil, José Dirceu, combina outra função estratégica: a coordenação do preenchimento dos cargos de confiança do governo. Com 49 anos, o professor de matemática e ex-dirigente da CUT, Delúbio arrecadou oficialmente R$ 33 milhões para a campanha de Lula, em 2002. Não é a primeira vez que o secretário de Finanças do PT se envolve em situações polêmicas. No ano passado, o Delúbio foi criticado por comprar convites, com financiamento do Banco do Brasil, de um show da dupla Zezé Di Camargo e Luciano, em Brasília, para arrecadar fundos para a campanha eleitoral. Também entrou no noticiário com a investigação da Operação vampiro, quadrilha que fraudava licitações do Ministério da Saúde, depois que um dos envolvidos citou seu nome como beneficiário do esquema. Ainda no ano passado, Delúbio recorreu ao STF para se defender de críticas feitas pelo tucano Tasso Jereissati, que referiu-se às PPP como propícias a ´´uma roubalheira´´ onde o ´´Delúbio vai deitar e rolar´. Por fim, quando o Banco Santos faliu, teve de falar das contas que o PT tinha.