Título: Fonteles analisa investigação contra Jefferson
Autor: Juliano Basile
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A5

O procurador-geral da República, Claudio Fonteles, estuda a possibilidade de abrir investigação contra o presidente do PTB, deputado Roberto Jefferson (RJ). A decisão sobre a abertura de inquérito contra Jefferson será tomada "muito em breve", informou a assessoria de Fonteles. O procurador-geral teria considerado graves as denúncias feitas pelo próprio Jefferson de que haveria um pagamento de propinas para os deputados votarem a favor do governo. Oficialmente, ele se recusou a fazer qualquer comentário e se limitou a informar que passou o dia analisando o material publicado pela imprensa. Fonteles está verificando se o presidente do PTB não deveria ter denunciado o "mensalão", já que ele saberia sobre o funcionamento do suposto esquema de pagamento de propina a parlamentares desde o ano passado. O deputado disse, em entrevista, que contou sobre a mesada ao presidente Luiz Inácio Lula da Silva e aos ministros da Casa Civil, José Dirceu, e da Fazenda, Antonio Palocci. Jefferson também poderá ser investigado pelas suspeitas de corrupção nos Correios. O ex-chefe do Departamento de Contratação e Administração de Material dos Correios, Maurício Marinho, aparece numa gravação dizendo que o presidente do PTB seria o comandante de um esquema de arrecadação de propinas. Em depoimento à Polícia Federal, feito logo após a divulgação da gravação, no final de maio passado, Marinho negou que Jefferson faça parte de um esquema de corrupção nos Correios. Ele disse ter usado o nome do deputado para valorizar os seus serviços. Ontem, Marinho depôs no Ministério Público por mais de cinco horas. Também ontem, a Polícia Federal indiciou o ex-diretor de Administração dos Correios, Antonio Osório, por corrupção e fraude a licitação. Osório é companheiro político de Jefferson. Fonteles recebeu documentos sobre a suposta existência de propinas nos Correios do procurador da República no Distrito Federal, Bruno Acioli, que investiga o escândalo na estatal. Acioli pediu ao procurador-geral que notifique o presidente do Senado, Renan Calheiros (PMDB), o ministro-chefe do gabinete de Segurança Institucional, general Armando Félix, e o senador Ney Suassuna (PMDB-PB) para que prestem depoimento no inquérito dos Correios. Acioli negou-se a revelar o motivo da convocação de Calheiros e de Félix. O procurador não esclareceu se pretende convocá-los porque suspeita deles ou se pretende obter o apoio de ambos na investigação. Já Suassuna será chamado porque Jefferson declarou que recebeu um coronel em seu gabinete, a pedido do senador, para negociar a fita em que Marinho fala sobre propinas nos Correios.