Título: Renan avisa que instalação de CPI é inevitável
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A6

Crise Oposição mantém requerimento da CPI dos Correios mas quer que Jefferson seja o primeiro depoente

Não há mais condição política para o governo impedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso. O recado ao Palácio do Planalto foi dado ontem pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que conversou ao longo do dia com ministros e líderes partidários da base. Não há mais condição política para o governo impedir a instalação de uma Comissão Parlamentar de Inquérito no Congresso. O recado ao Palácio do Planalto foi dado ontem pelo presidente do Senado, Renan Calheiros, que conversou ao longo do dia com ministros e líderes partidários da base. em entrevista coletiva ontem. "Essas horas de crise são difíceis. Tem que ter bom senso. Os espaços para manobrar, se alguém queria fazer isso, são muito menores". A denúncia sustentada pelo deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em entrevista ao jornal "Folha de S. Paulo", de que havia no Congresso um esquema de pagamento de R$ 30 mil por mês, mina os planos do governo de abortar a CPI dos Correios, enfatizavam os aliados ontem. A tentativa do governo de permitir a criação de uma CPI do Mensalão, para evitar a dos Correios, conforme alguns ministros admitiam à tarde, foi também considerada apenas mais uma manobra para acabar com a CPI dos Correios. Os líderes da base aliada voltaram ontem ao Congresso achando que não prosperaria mais a operação para abafar a CPI dos Correios, requerida a partir de denúncia, publicada na revista "Veja", sobre esquema de corrupção criado por funcionários indicados por Roberto Jefferson. Por ora, a oposição mantém a estratégia de insistir na CPI dos Correios, mas quer que o primeiro convocado a depor seja Roberto Jefferson. A partir daí, se o parlamentar confirmar as denúncias de pagamento a colegas por parte do PT, vão ampliar o foco de investigação. Hoje é o dia crucial sobre o futuro da CPI dos Correios. Está marcada uma reunião na Comissão de Constituição e Justiça (CCJ) da Câmara em que os parlamentares vão analisar se a CPI é constitucional ou não. O governo orientou os aliados a considerá-la inconstitucional, evitando sua instalação. Apesar de alertas e novas análises do cenário, que se agravou, os líderes mantinham a estratégia. "Continuamos com a mesma estratégia. Se recuássemos seríamos incoerentes", afirmou Chinaglia. Ele confirmou, entretanto, que a estratégia pode mudar se os líderes da base aliada entenderem que é melhor adiar a votação na CCJ enquanto esperam a poeira baixar. O líder do governo admitiu, no entanto, que os fatos aumentam a cobrança da opinião pública. "Para a opinião pública é tudo a mesma coisa, tudo denúncia de corrupção. Mas nós temos que saber que não é assim, que na verdade são dois fatos diferentes que não se misturam", disse ele. Caso a CCJ não decida nada em relação à CPI hoje, um novo embate entre governo e oposição será travado amanhã. O senador Renan Calheiros convocou uma reunião com todos os líderes de partido da Câmara e do Senado. Disse que vai pedir aos líderes que indiquem os membros da CPI. "Quero combinar um prazo razoável para que a oposição e o governo indiquem os membros", disse Renan. O presidente do Senado deixou claro que indicará os membros se os líderes se omitirem. "Não posso permitir que essa delonga me desgaste", avisou ele. Até ontem à noite, líderes da base reuniam-se no Palácio do Planalto para mapear os estragos provocados pela denúncia de Jefferson e bater o martelo se há ou não condição política de abafar a CPI. A crise refletia fortemente no PT. Senadores petistas cobravam do partido que apoiasse a CPI dos Correios sem restrições, sob pena de sacrificar a imagem ética criada pela legenda ao longo de seus 25 anos de existência. Na opinião de Renan, a denúncia feita pelo presidente nacional do PTB é "muito grave, grotesca, absurda". "É algo que precisa ser investigado, apurado. Como presidente do Congresso não posso permitir que mais parlamentares arranhem a imagem da instituição. Daí a necessidade de investigar a fundo", afirmou.