Título: Poupado das denúncias, PMDB vira fiel da balança
Autor: Cristiane Agostine e Maria Lúcia Delgado
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A6

Único grande partido da base do governo não citado pela entrevista do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ), o PMDB não dá sinais claros de que posição tomará com o desdobramento da crise. O presidente do Senado, Renan Calheiros, passou ontem o dia conversando com ministros e líderes. Nas entrelinhas, deixa claro que a CPI é irreversível. Até parlamentares mais moderados e aliados fiéis do governo no PMDB, como Garibaldi Alves (RN), foram à tribuna ontem defender a investigação na comissão parlamentar de inquérito. "A investigação é irreversível", disse o pemedebista. O fato de o PMDB não ter sido exposto por Jefferson na entrevista à "Folha de S. Paulo" foi positivo e fortalece a sigla, na avaliação de pemedebistas. "O PMDB deixa de sofrer desgaste. O partido não fez nada", disse o presidente estadual Orestes Quércia (SP). Dada a situação de fragilidade da base política do presidente, o PMDB pode vir a se tornar o fiel da balança da crise. Presente na mesma reunião em São Paulo que Quércia, o presidente nacional do partido, Michel Temer, defendeu: "Estamos nos baseando nas palavras do presidente do PTB, que para mim merecem todos os créditos". Ao denunciar o suposto esquema de pagamento de parlamentares em troca de apoio, Jefferson enfatizou que o PMDB "estaria fora" do esquema. O deputado federal Moreira Franco (RJ) lembrou que o "mensalão" já fora denunciado pelo prefeito do Rio, Cesar Maia, e foi rebatido "violentamente" pelo PT. Em seguida, disse: "Os deputados do PMDB não recebem mesada de ninguém. Não temos nenhum jovem e ninguém precisa de mesada". Postulante ao governo federal em 2006, o presidente regional Anthony Garotinho (RJ) avaliou que Jefferson trouxe à tona o esquema porque percebeu que "as situações estavam convergindo somente para ele": "Ele deve ter pensado: já que é para me levar para o inferno eu não vou sozinho", disse. Líderes do partido afirmam que o suposto pagamento mensal é um "fato inédito". "O PMDB nunca teve conhecimento, nem na gestão passada. É um fato inédito na história do Legislativo", disse Temer. Já existem análises no PMDB de que o presidente Luiz Inácio Lula da Silva corre risco de perder o mandato. Mas Temer descartou o impeachment diante das denúncias e defendeu a instalação de uma CPI. "É uma denúncia grave, que tem de ser investigada até o fim, até as últimas conseqüências. Deixar de investigar significa ampliar a crise", afirmou. Neste momento delicado, Calheiros não pode mais assumir negociações partidárias explicitamente, em função de seu cargo. O ex-presidente José Sarney não estaria muito satisfeito com o governo. A senadora Roseana Sarney, sondada para ocupar um ministério, deixou o PFL, se desgastou e não foi nomeada. O Palácio do Planalto, em contrapartida, intensificou negociações com Quércia, Garotinho e Geddel Vieira Lima (BA). O lado de lá do PMDB não gostou e o partido, que andava dividido em relação ao apoio a Lula, pode aprofundar os questionamentos. Os pemedebistas aliados a Temer defendem que as acusações de Jefferson seriam o impulso que faltava ao PMDB para se afastar do governo e entregar os ministérios da Comunicação e Previdência. "Nossos ministros e presidentes de estatais deveriam se afastar do governo, como foi pregado na Convenção (em 2004). Esta é uma oportunidade para deixar o governo", disse Temer. Colaboraram Janaina Villela e Heloisa Magalhães, do Rio