Título: PTB decide sobre afastamento de Jefferson; PP e PL vêem chantagem
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A6

O PTB foi surpreendido pelas denúncias de seu presidente, Roberto Jefferson, e deveria decidir, na noite de ontem, o afastamento do deputado da função. Embora negada oficialmente, a reunião estava marcada e contaria com a presença de poucos membros do partido, entre eles líder do governo na Câmara, José Múcio (PE) e o ministro do Turismo, Walfrido Mares Guia. A idéia do afastamento de Jefferson, defendida de forma unânime, foi rascunhada em um encontro que também foi negado oficialmente pela sigla. Entre os petebistas que participam da reunião da tarde estavam Walfrido Mares Guia, Múcio e o líder do governo no Congresso, senador Fernando Bezerra (PTB-RN). A avaliação é que seria um desgaste muito grande para a sigla a manutenção de Jefferson. Os petebistas não deram indicações de que deixariam a base do governo, e o governo também não hostilizou o PTB. "Todos nós fomos surpreendidos, mas ainda não discutimos o que faremos", afirmou o deputado Luiz Antônio Fleury (SP), secretário-geral do PTB. O presidente da Confederação deputado federal, Armando Monteiro Neto (PTB-PE), defendeu a CPI., mas salvaguardou o presidente. "O congresso foi diretamente atingido e mais do que nunca deve, por todos os meios, apurar as denúncias. A denúncia não compromete o presidente e nem a presidência como instituição. Isso é relacionado com o PT", afirmou. A assessoria de Roberto Jefferson, informou que o deputado só vai se pronunciar novamente sobre as denúncias de pagamento de mesada a parlamentares da base aliada na CPI. O governo não se movimentou de forma eficaz para tentar apaziguar e tranqüilizar sua base. "O governo não prometeu apoio mas também não foi procurado pelos presidentes das siglas, os partidos têm suas próprias dinâmicas", afirmou o líder do governo na Câmara, Arlindo Chinaglia (PT-SP). O PL divulgou nota oficial prometendo processo judicial contra Roberto Jefferson. "Caso não cometa a covardia de renunciar a seu mandato, o sr. Roberto Jefferson e suas mentiras serão punidas pela Câmara, que não admite gente comprovadamente desqualificada entre seus pares", afirmou a nota. Em entrevista, o presidente do PL, deputado Valdemar da Costa Neto, disse também que vai entrar com uma representação contra ele na corregedoria da Câmara. Costa Neto disse acreditar que o objetivo do parlamentar petebista foi "chantagear o governo", "para ver se leva alguma coisa", depois de constatar que sua carreira ficaria arruinada. O PP não emitiu uma nota oficial, mas seus líderes divulgaram comunicados. O presidente da legenda, Pedro Corrêa, afirmou que "entende o sofrimento do presidente do PTB, o que justifica suas divagações publicadas pela imprensa e torço para que ele consiga provar sua inocência", diz. O ex-presidente da legenda, Pedro Henry, disse que a entrevista traz um "denuncismo desesperado". O presidente da Câmara, Severino Cavalcanti (PP-PE), se disse apreensivo. Ele ressaltou que todas as decisões sobre o caso, como uma possível quebra de sigilo bancário dos deputados denunciados, ficarão a cargo de Ciro Nogueira (PP-PI). "O corregedor terá que ouvir o próprio Jefferson." (HGB, colaboraram Mônica Izaguirre, de Brasília, e Paulo Emílio, do Recife)