Título: Para Miro, Jefferson tem mais denúncias
Autor: Janaina Vilella
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A7

Crise Ex-ministro disse ter ouvido relato sobre encontro da mesada

O ex-ministro das Comunicações, deputado federal Miro Teixeira (PT-RJ), confirmou ontem que recebeu o deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ) em seu gabinete no ministério, no fim de 2003, mas acrescentou que o parlamentar omitiu parte da conversa que tiveram na entrevista concedida ao jornal "Folha de S.Paulo". Além de denunciar o pagamento de mesada aos parlamentares, Jefferson também contou a Miro, de acordo com o próprio ex-ministro, ter participado de uma reunião na esfera do governo onde teria sido oferecido dinheiro a cinco ou seis pessoas, entre elas parlamentares da base aliada e integrantes do governo. "Há uma parte muito grave que o deputado omitiu. Estranho que ele omita este relato. Ou era mentira ou ele está reservando para usar como trunfo em seu proveito. Mas ninguém vai virar álibi de Roberto Jefferson. Ele me descreveu um cenário de corrupção. Disse ter presenciado uma reunião na qual participaram cinco ou seis pessoas de outros partidos. Disse que estava havendo um mecanismo de arrecadação e distribuição de dinheiro para deputados, mas não mencionou valores", disse Miro, acrescentando que esses participantes não trabalham "perto do gabinete do presidente Lula". O petista quer que o deputado revele todo o teor das informações passadas a ele. "Temos que começar a puxar o fio do novelo. Eu não aceito ocultação", afirmou Miro. Os detalhes sobre o esquema de pagamento de propina aos deputados relatados por Jefferson foram tão graves, de acordo com Miro, que ele afirmou não ter visto nada semelhante: "Com oito mandatos nunca vi nada semelhante". Miro contou que Jefferson o procurou em seu gabinete para lhe convidar a ingressar no PTB e, brincando, lhe falou que "seu partido estava fora dessas coisas". Miro contou que perguntou ao deputado que "coisas" seriam essas e Jefferson começou, então, a detalhar o pagamento da mesada aos deputados e detalhes sobre a suposta reunião. Assim que o presidente nacional do PTB acabou de lhe narrar os fatos, Miro propôs a Jefferson que eles fossem imediatamente ao gabinete do presidente para revelar o suposto esquema de corrupção, mas Jefferson se negou, argumentando ter medo de que as informações pudessem "desestabilizar o governo". Quando voltou para a Câmara dos Deputados, Miro, mais uma vez, instigou Jefferson a denunciar em plenário o sistema de arrecadação e distribuição de dinheiro a parlamentares. "Eu falei para ele: Jefferson, você fala e eu entro logo depois no plenário confirmando tudo", contou Miro aos jornalistas. Mais uma vez, o deputado do PTB negou. O ex-ministro confessou ter questionado deputados do PSDB, do PPS e do próprio PT sobre a existência desse esquema de corrupção. Alguns deles, segundo Miro, já tinham ouvido falar do assunto, mas, assim como ele, não tinham provas. Miro explicou que não contou o conteúdo de sua conversa ao presidente porque não queria entrar "no ambiente da fofoca". "Eu não tinha prova. Se tivesse, tinha tomado providências. Eu não podia contar a Lula uma informação que o próprio Jefferson se negou a levar adiante", afirmou Miro, acrescentando que não acredita, diferente do que Jefferson declarou ao jornal, que o deputado tenha feito essas denúncias pessoalmente ao presidente Lula. "Acho inverossímil ele (Jefferson) ter ido falar com o Lula, porque ele se negou a ir quando eu pedi". O deputado petista considerou ainda "pouco provável" que o PT estivesse pagando uma mesada de R$ 30 mil a deputados do PP e do PL, alegando que a "informação é tão grave que não sobreviveria na esfera interna do governo por muito tempo". Ele defendeu que as denúncias sejam rigorosamente apuradas e que, se preciso, seja instalada uma CPI para apurar o caso.