Título: Investimento cresce 47%
Autor: Otoni, Luciana
Fonte: Correio Braziliense, 02/04/2010, Economia, p. 11

Empresas estatais gastaram R$ 11,8 bilhões nos dois primeiros meses do ano, atendendo aos apelos do governo

Das 75 estatais federais, a Petrobras foi a única a cumprir a determinação do governo de reforçar os investimentos neste ano de eleição presidencial. Entre janeiro e fevereiro, a estatal do petróleo concluiu projetos, abriu o cofre e acelerou a execução de obras em plataformas, refinarias e estaleiros, além da construção de navios petroleiros, totalizando gastos de R$ 11,86 bilhões, 47% maior que os R$ 8,07 bilhões movimentados em igual período de 2009. O investimento da Petrobras nos dois primeiros meses de 2010 também foi expressivamente maior que os R$ 5,41 bilhões e os R$ 4,02 bilhões liberados, respectivamente, em igual período de 2008 e 2007 (veja quadro). Enquanto a Petrobras amplia a execução das obras, as demais estatais patinam e, mesmo com o caixa cheio de dinheiro, não conseguem tocar projetos nas áreas de energia elétrica, saúde, aeroportos e portos. A Eletrobras, que conta com R$ 8,13 bilhões programados para este ano, conseguiu gastar apenas R$ 369 milhões nos primeiros dois meses de 2010. Diferentemente da Petrobras, a holding que reúne as empresas federais do setor elétrico tem a obrigação de contribuir com R$ 1,6 bilhão para o governo cumprir a meta de 3,3% do Produto Interno Bruto (PIB) para o pagamento dos juros da dívida pública (superavit primário). Ainda assim, essa obrigatoriedade não explica a baixa execução no primeiro bimestre. O programa Luz Para Todos, de forte impacto social e a menina dos olhos da ex-ministra e candidata do PT à Presidência, Dilma Rousseff, ficou parado no início deste ano. De R$ 1,31 bilhão reservados para a instalação de energia elétrica em milhares de domicílios nos rincões do país, somente R$ 38 milhões foram usados.

Aeroportos

A Infraero, responsável por ampliar e reequipar os aeroportos para evitar um novo apagão aéreo em um contexto em que as classes C e D começam a viajar pelo país, teve um desempenho pífio entre janeiro e fevereiro. Com R$ 1,46 bilhão para tocar obras em vários terminais, a Empresa de Infraestrutura Aeroportuária utilizou R$ 31 milhões nos primeiros dois meses de 2010. No segmento da saúde, a Hemobrás é outra iniciativa que não sai do papel. Dos R$ 228 milhões orçados para a montar a fábrica de hemoderivados, nem um centavo foi gasto entre janeiro e fevereiro. Os dados são do Ministério do Planejamento e fazem parte do balanço de investimento das 75 estatais federais. Neste ano, essas empresas programaram desembolsos de R$ 94,541 bilhões para a execução de obras. A maior parte, contudo, está concentrada na Petrobras, que responde por R$ 79,29 bilhões, e pela Eletrobras, com R$ 8,13 bilhões.

Caixa forte

O salto na execução das obras da estatal do petróleo é resultado do reforço de seu caixa, destinado a financiar a infraestrutura para a exploração dos campos de petróleo do pré-sal no litoral brasileiro, e nos quais a estimativa de reserva é de 8 bilhões de barris de óleo. Nos últimos anos, a carteira de investimento da companhia foi reforçada: passou de R$ 39 bilhões em 2007 para R$ 50 bilhões em 2008, para R$ 69,209 bilhões no ano passado e, finalmente, para R$ 79,29 bilhões em 2010. Contudo, até mesmo a poderosa Petrobras enfrenta dificuldade para gastar todo o dinheiro que possui. No ano passado, a companhia não conseguiu usar integralmente a cifra de R$ 69,21 bilhões, encerrando dezembro com 75% da execução dos projetos de investimento.

Dinheiro para poucos

Entre janeiro e fevereiro, o investimento das 75 estatais somou R$ 12,45 bilhões (sendo R$ 11,86 bilhões somente pela Petrobras). A distribuição desse dinheiro foi desigual e concentrada nas regiões mais ricas. A Região Sudeste ficou com 31,1%, a Nordeste com 18,3%, a Sul com 3,8% e a Região Norte com 3,2%. A Centro-Oeste captou parcos 0,7%. As obras no exterior abocanharam 16,9%.