Título: Tucanos reagem com moderação
Autor: Maria Lúcia Delgado e Henrique Gomes Batista
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A7

A extensão da crise política preocupou até os parlamentares da oposição, que reagiram com surpreendente moderação por orientação das direções das legendas. No Senado, o PSDB decidiu poupar, pelo menos por enquanto, o presidente Luiz Inácio Lula da Silva. Vai insistir na instalação da CPI dos Correios, dando prioridade à convocação do deputado Roberto Jefferson (PTB-RJ). Enquanto a CPI não vinga, os senadores tucanos preparam uma estratégia para ouvir Jefferson. O líder do PSDB, Arthur Virgílio (AM), protocolou 31 requerimentos na Comissão de Fiscalização e Controle para que o deputado e todos ministros e parlamentares citados por ele sejam ouvidos. O líder da minoria no Senado, José Jorge (PFL-PE), apresentou requerimento convidando Jefferson a comparecer na Comissão de Constituição e Justiça. Os requerimentos serão votados nesta semana. Dirigentes do PSDB, orientados pelo ex-presidente Fernando Henrique Cardoso, deixaram de lado o discurso fatalista e chegaram inclusive a propor um pacto com Lula caso ele afaste de seu governo e do PT "membros indesejáveis", conforme descrição do líder do partido no Senado, Arthur Virgílio. Na tribuna do Senado, o líder do PSDB afirmou que o partido está "às ordens de Lula para um diálogo alto", com um "pré-requisito": que o presidente tire do governo e do PT os aliados supostamente envolvidos em denúncias de corrupção. Sem citar nomes, Virgílio referia-se, principalmente, ao tesoureiro do PT, Delúbio Soares, e ao secretário-geral do partido, Sílvio Pereira. O objetivo do PSDB é se credenciar como "oposição responsável" num momento de extrema fragilidade política do governo. "À oposição brasileira não interessa uma crise institucional. Queremos dar um voto de confiança ao presidente Lula", disse o tucano. "Se Sua Excelência resolver tirar a poeira de cima do casaco, tem a palavra do PSDB de que pode nos convocar para compormos um projeto de governabilidade para o Brasil. Está posta aqui a definição de uma oposição que não é golpista. Só por via da democracia consolidada é que se pode chegar a uma nação menos infeliz", afirmou Arthur Virgílio. Os tucanos concluíram que uma desestabilização do governo não interessa a ninguém. FHC alertou que não é prudente essa via. "Não vamos ceder às tentações desestabilizadoras", disse o ex-presidente aos colegas tucanos. Ninguém no PSDB vai propor impeachment do presidente Lula por prevaricação. Isso está decidido. "Mas não vamos deter o caminho das coisas", enfatizou um tucano, deixando claro que tudo depende do desdobramento da CPI. Se o governo insistir em barrar a CPI, o discurso da oposição deve mudar. O governador de São Paulo, Geraldo Alckmin (PSDB), cobrou explicações do presidente Luiz Inácio Lula da Silva sobre as denúncias de que o PT estaria pagando uma "mesada" para os deputados da base aliada. "Todos nós aguardamos a palavra do presidente Lula", afirmou o governador. "Ele foi citado nominalmente. É evidente que vai explicar", acrescentou. Alckmin frisou que a oposição não irá colaborar para criar um ambiente político ainda mais tenso, mas frisou que isso "não pode ser confundido com impunidade". "Vamos aguardar as investigações e as explicações do governo", disse. O governador participou ontem de reunião do Conselho Estadual de Relações Internacionais e de Comércio Exterior do Estado de São Paulo. Já o governador de Minas, Aécio Neves (PSDB), que tem hoje encontro marcado com o ministro da Fazenda, Antonio Palocci, evitou polemizar sobre as denúncias feitas pelo presidente do PTB. Preferiu divulgar uma nota curta, no fim da tarde de ontem, para comentar a crise política. "Considero as denúncias extremamente preocupantes. Espero que possam ser investigadas em profundidade com isenção e, sobretudo, serenidade", comentou ele, no material divulgado por sua assessoria de imprensa. Segundo o governador, neste momento, o esclarecimento do assunto interessa mais ao próprio ao PT do que a oposição. "O PT deve esclarecimento a todos os brasileiros", afirmou. (Colaboraram Raquel Landim, de São Paulo, e Ivana Moreira, de Belo Horizonte)