Título: Cesar Maia afirma que caso é mais grave do que o de Watergate
Autor: César Felício
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Política, p. A7

Pré-candidato a presidente pelo PFL, o prefeito do Rio, Cesar Maia, afirmou ontem, após uma palestra na Associação Comercial de São Paulo, que caso as denúncias feitas pelo deputado Roberto Jefferson sobre suborno de deputados sejam verídicas estará aberto o caminho para a cassação do mandato do presidente Luiz Inácio Lula da Silva pelo Congresso. "Se Jefferson falou a verdade, temos nas mãos um caso mais grave que o de Watergate. Hipoteticamente, o presidente foi informado de um ato de corrupção ativa e não abriu uma investigação. Se assim agiu, cometeu crime de responsabilidade e o Congresso precisa abrir um processo para o seu impedimento", disse. o pefelista, ressalvando que "o 'impeachment' será uma consequência, à medida em que uma CPI for demonstrando as acusações". O prefeito se referiu ao escândalo que derrubou o então presidente norte-americano Richard Nixon em 1974. Maia fez questão de lembrar que há fitas mostrando que Nixon chorou e obrigou o então secretário de Estado, Henry Kissinger, a ajoelhar-se para rezar, quando soube de algumas denúncias que pesavam contra si. Para Cesar Maia, uma tentativa de se atenuar as consequências do caso deixará o País no limiar de uma ruptura. "Se os fatos forem acobertados, a crise política se tornará uma crise institucional. A salvação do presidente Lula será o desastre institucional brasileiro", afirmou. Há dois meses, Cesar Maia comentou em uma entrevista a existência de um suposto esquema de subvenções criminosas a deputados. Ontem, o prefeito reiterou as acusações. "Confio na palavra que recebi de pelo menos 15 parlamentares que me informaram, entre deputados e senadores. o Jefferson, que tem a tradição de honrar a palavra nos melhores e nos piores momentos, veio a se somar a este grupo. O que me disseram é que isto era feito de forma aberta, em um almoço mensal em um restaurante em Brasília, em que alguém chegava com uma mala e os pacotes eram distribuídos". Cesar Maia não disse quem eram suas fontes de informação e nem a identidade do personagem que chegava no restaurante com malas e pacotes de dinheiro. "Procurei difundir as informações que eu tinha, mas eu não tinha o detalhamento de como isso se processava. Como a entrevista do Jefferson tornou a CPI inevitável, as respostas vão ser dadas", afirmou. Acompanhando o pré-candidato, o presidente do PFL, senador Jorge Bornhausen (SC), comentou que 23 parlamentares ex-filiados ao partido podem estar na relação dos deputados que receberiam o dinheiro do "mensalão". "No decorrer deste governo, perdemos 25 parlamentares e apenas dois foram para outros partidos de oposição. Temos que admitir que eles ficam agora sob suspeita", disse. Bornhausen lembrou ter sido ele o primeiro a chamar a CPI dos Correios, que a oposição tenta criar no Congresso, de "CPI da Mesada". "As denúncias começaram a existir no ano passado e o assunto corria à boca pequena. Como era um assunto de alta responsabilidade, precisava de um fato explícito para começar a ser apurado. Antes da CPI do Orçamento, por muito tempo se ouviu falar da existência de problemas. Mas aquela CPI só foi criada quando surgiu um escândalo externo, envolvendo um crime de morte", disse. Bornhausen aludiu ao assassinato de Ana Elizabeth Lofrano dos Santos, uma funcionária do ministério da Educação, em 1992. Suspeito do crime, o marido José Carlos Alves dos Santos, assessor da Comissão de Orçamento, foi preso e decidiu então denunciar um esquema de corrupção do qual seria protagonista, envolvendo vários parlamentares. As denúncias eram motivos de rumores em Brasília há anos, mas com o depoimento de Santos uma CPI foi criada em questão de horas. "A CPI do Orçamento trouxe prejuízos para a revisão constitucional, mas não parou o país. Agora, repete-se a situação. Há muito tempo comentava-se que para a formação da base aliada havia se extrapolado da liberação de emendas para a mesada", disse. (Colaborou Janaina Vilella, do Rio)