Título: Carlos Slim prepara investida em infra-estrutura no Brasil
Autor: Raquel Balarin
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Empresas &, p. B1

Diversificação Empresário planeja disputar concessões de rodovias e saneamento com a Ideal

O mexicano Carlos Slim Helú, dono da maior fortuna da América Latina e a quarta maior do mundo (US$ 23,8 bilhões, segundo a revista "Forbes"), vai investir em obras de infra-estrutura no Brasil. O anúncio foi feito por ele em entrevista ao Valor no fim-de-semana, ao final do Terceiro Encontro de Empresários da América Latina, evento fechado que reuniu os donos das maiores corporações latino-americanas e seus herdeiros no hotel Hyatt, em São Paulo. Os investimentos em infra-estrutura serão feitos pela mais nova empresa de Slim, a Impulsora del Desarrollo Económico de América Latina (Ideal), criada na semana passada como resultado de uma cisão na Inbursa, braço financeiro do conglomerado do empresário. "A Ideal tem projetos em estudo em vários lugares e o Brasil, por sua dimensão, responde por grande parte desses projetos", afirmou o engenheiro Slim, como gosta de ser chamado, entre uma baforada e outra do inseparável charuto. O empresário não quis fazer menção específica a nenhum projeto, mas deu uma dica de suas áreas de interesse - concessões rodoviárias e saneamento básico. No México, a Ideal (antes um fundo) tem quatro investimentos: as rodovias pedagiadas Chamapa-La Venta e Tepic-Villa Unión, um anel viário e uma estação de tratamento de água em Toluca. Em concessões de rodovias, as próximas licitações previstas no Brasil são as das rodovias federais Fernão Dias, Régis Bittencourt e Curitiba-Florianópolis. Os editais devem sair em julho. Slim disse que a decisão de seu grupo de investir em infra-estrutura coincide com os objetivos do governo Luiz Inácio Lula da Silva. "O presidente Lula tem convidado a iniciativa privada a investir em projetos de infra-estrutura", disse, em tom elogioso. Para ele, Lula vai bem e tem conseguido desenvolver a economia em bases sólidas. "O Brasil é um país forte, com um grande empresariado, muitos recursos e oportunidades de investimento." Slim quer aproveitar a forte demanda por obras de infra-estrutura na América Latina e a Ideal é sua grande aposta no momento. Com capital de US$ 720 milhões, a empresa deve passar a ter suas ações negociadas nas bolsas do México e de Nova York a partir de agosto. No México, o modelo desenvolvido por Carlos Slim prevê que a Ideal controle a concessão ou o projeto de infra-estrutura, o grupo Carso (seu braço industrial) faça a construção e o Inbursa (braço financeiro) dê os empréstimos necessários. O grupo tem grande interesse na área de energia, que no México ainda está sob controle estatal. Dinheiro não falta ao empresário, cujo conglomerado atua nos setores financeiro, de telefonia, varejo, mineração, construção, cigarro, ferrovias e cimento. Com um único negócio, ele lucrou nada menos que US$ 800 milhões este ano: vendeu à Verizon por US$ 1,12 bilhão ações da MCI adquiridas em 2002 por US$ 300 milhões (Slim comprara bônus em default, depois convertidos em ações). A Telmex, sua empresa de telefonia fixa que detém mais de 90% do mercado mexicano, tem margem de lucro operacional próximo de 50%. No Brasil, Slim atua na área de telecomunicações. É dono, via América Móvil, da operadora de telefonia móvel Claro. Detém também o controle da Embratel, da AT&T Latin America (hoje Telmex Latin America) e participa do capital da empresa de TV a cabo NET. Questionado sobre a integração desses ativos, Slim disse que não tem intenção de unir as áreas de telefonia móvel e fixa. "A Claro não vai se unir à Embratel", disse, demonstrando estar entediado sobre o assunto telecomunicações, mas reforçando que há muito espaço para consolidação no setor, inclusive no Brasil. Embora no Brasil o modelo seja de integração das operações fixa e móvel (casos da Telemar e da Brasil Telecom), a estratégia de Slim para a América Latina tem sido diferente, de separação dos negócios. "A Telmex não deve mudar seu modelo apenas para o mercado brasileiro. Mas, no futuro, deverão ser realizados acordos operacionais, com convergência de serviços e aumento da competitividade", afirma Luciana Leocadio, analista de telecomunicações do BES Securities. A atuação das empresas de Carlos Slim no mercado brasileiro vem sendo criticada por seus concorrentes. "Os resultados do grupo na área de telecomunicações no México são muito bons porque eles são praticamente monopolistas. No Brasil, com competidores, os resultados não têm sido grande coisa", alfineta um dos sócios de uma empresa de telefonia fixa. A Claro, que até o início do ano era a segunda no ranking de participação de mercado, perdeu o lugar para a TIM. Em abril, segundo dados da Anatel, a TIM detinha uma participação de 21,46% e a Claro, de 21,06%. A empresa de telefonia móvel de Slim tem sido bastante agressiva em subsídios e deve fechar o ano com uma margem de lucro próxima de zero, por causa da concorrência, segundo a analista Luciana Leocadio. A América Móvil tem ainda uma licença de telefonia móvel para Minas e deve anunciar sua operação na região até o fim do ano, caso não adquira a Telemig Celular. Telemig e TeleNorte, hoje sob o controle do Opportunity, dariam à Claro cobertura nacional. Na telefonia fixa, a analista da BES Securities disse que o grupo Telmex ainda está organizando seus ativos e definindo sua estratégia. "Mas, com várias promoções, a Embratel parece ter conseguido frear um pouco a queda de tráfego no primeiro trimestre." Carlos Slim não gosta de ser chamado de monopolista. Ao ser informado sobre críticas de seus concorrentes, ele faz uma longa pausa e dispara: "Sempre apelam para isso quando querem nos desqualificar. Na telefonia fixa, competimos com AT&T e MCI. Na móvel, compramos a segunda empresa do mercado. Concorremos com Verizon, Vodafone, Telefónica. Quando há concorrência, não há monopólio", explicou (a Telmex teve o monopólio por sete anos após a privatização). O empresário também destacou que tem concorrentes em outros mercados. Na Argentina, segundo ele, adquiriu a quarta maior operadora de telefonia móvel. No Uruguai, tem uma licença para iniciar a operação. No Peru, também (e lá a maior operadora detém 70% do mercado, segundo ele). "Sempre estivemos prontos para competir. Somos altamente competitivos nas áreas em que atuamos, como banco, varejo e cigarro. Há 25 anos, compramos um terço de uma empresa de cigarros. Agora, somos líderes. Em telecomunicações, nossa entrada propiciou o crescimento da penetração, dos serviços, investimentos em tecnologias e preços favoráveis ao consumidor."