Título: TAP quer ter acesso à capacidade excedente da VEM e da VarigLog
Autor:
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Empresas &, p. B2

Caso seja bem-sucedida em seus planos para assumir o controle da Varig, a TAP não pretende se ater apenas à integração das malhas de vôo das duas companhias. A estatal portuguesa está de olho, entre outras coisas, na utilização do excesso de capacidade da Varig nas áreas de manutenção e de transporte de cargas, operadas pela Varig Engenharia e Manutenção (VEM) e VarigLog, respectivamente, segundo o Valor apurou. Nos dois negócios, a TAP está em seu limite de capacidade e não tem como crescer. Além de abrir espaço para expandir-se nessas frentes de negócios, a TAP pretende integrar diversas áreas de apoio das duas companhias, numa tentativa de promover economias e melhorar não só os números da Varig, mas também os seus próprios indicadores financeiros e operacionais. Nas áreas passíveis de integração estão a de comercialização de bilhetes, de compras de suprimentos, de sistemas de tecnologia e de handling (logística de bagagens e passageiros nos aeroportos). Os gastos com treinamento de tripulação também poderiam cair caso houvesse uma padronização das aeronaves utilizadas pelas duas empresas. Apesar dos planos para controlar a Varig, a estatal portuguesa TAP não abandonou a idéia de uma privatização das suas operações. A empresa aposta que a integração de seu negócio com a companhia brasileira irá, na verdade, aumentar o preço que investidores privados poderão pagar no futuro. A TAP considera que os negócios na região que chama de Atlântico Sul (América do Sul e África), especialmente o Brasil, são importantes para a continuidade de suas operações. Isso porque a expansão no chamado Atlântico Norte é mais difícil, por conta da concorrência oferecida por outras aéreas européias. A idéia é integrar mais os vôos das duas companhias, para que os passageiros originados por uma alimentem a malha da outra. Conforme o Valor revelou ontem, o plano da TAP prevê a execução de quatro etapas de uma complexa estrutura financeira. De acordo com uma fonte, todos os estágios teriam que ser cumpridos quase que simultaneamente, porque nenhum deles funciona sem o outro. Em primeiro lugar, seria criada uma Sociedade de Propósito Específico (SPE) para adquirir as dívidas junto a credores estrangeiros e os aviões em regime de leasing. Essa SPE emitiria títulos no exterior num total de US$ 2 bilhões que seriam entregues a esses credores e empresas de leasing, em troca dos créditos. A SPE passaria a ser a nova credora da Varig. A seguir, a SPE usaria esses créditos e aviões para capitalizar a Varig. A transformação de dívida em capital abateria o passivo da aérea e também reduziria o rombo patrimonial. Ao fazer esse aumento de capital, a SPE assumiria 90% do capital da Varig, diluindo a Fundação Ruben Berta a cerca de 5%. O restante das ações ficaria com os atuais minoritários, que também seriam diluídos. Como medida adicional nesse sentido, está previsto o encontro de contas entre dívidas tributárias da Varig e a indenização que a companhia tem a receber em um processo contra a União. No estágio final, a SPE venderia à TAP e ao mercado as ações da Varig, usando os recursos arrecadados para pagar os credores que aceitaram seus títulos da dívida. Ao final, a TAP ficaria com até 20% do capital da Varig e o seu controle acionário, já que as ações com direito a voto seriam pulverizadas. (VA)