Título: Exterior é saída para Votorantim crescer
Autor: Ivo Ribeiro
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Empresas &, p. B8

Conglomerado Antônio Ermírio diz que caminho da internacionalização foi um 'mal necessário' ao grupo

"A internacionalização da companhia é um mal necessário", afirma o empresário Antônio Ermírio de Moraes, comandante do grupo Votorantim. Para ele, o lugar de se investir é no Brasil, que precisa gerar riqueza e empregos. "Aqui prefiro aplicar todos nossos recursos." O empresário, que no sábado completou 77 anos de vida, disse que o primeiro passo no exterior, com a compra de ativos de cimento no Canadá e Estados Unidos, se deveu à estagnação desse setor no Brasil. "Fomos obrigados a ir para fora, a contragosto, porque a demanda no país parou", declarou. Para ele, faltou atenção e incentivos ao setor da construção civil. "É triste", lamentou-se Antônio Ermírio, observando que o PIB brasileiro paralisou-se em 1,1% do mundial e as exportações, por mais que cresçam, não passam de 1% do total realizado por todas as nações. "Em cimento, se quisermos crescer temos de ir para fora." Atualmente, o grupo detém 6% da produção de cimento nos EUA. Na área de metais - alumínio, zinco, níquel e aço - não mostra nenhum entusiasmo para investir em ativos fora. Sobre a aquisição de uma refinaria de zinco no Peru, no ano passado, afirmou: "Foi uma ótima oportunidade que não podíamos perder". Em alumínio, negócio que conhece a fundo e melhor que muita gente, sequer cogita fazer algo fora. "Temos reservas de bauxita para 150 anos e espaço para fazer nossa fábrica crescer." Por isso, algo lhe era grande motivo de alegria na sexta-feira: o aniversário de 50 anos de operações da Cia. Brasileira de Alumínio (CBA), fábrica que ajudou a criar com seu pai - José Ermírio de Moraes - no início da década de 50 e da qual não se desgrudou nunca mais. Tanto que acumula dois cargos - presidente do conselho de administração da Votorantim e presidente da CBA. Antônio Ermírio é um dos raros membros da família atualmente à frente de uma unidade de negócios do grupo. Ao longo dos últimos dez anos, vários executivos contratados no mercado foram ocupando posições na gestão das empresas e família se deslocou para os conselhos executivos e de administração. O outro membro é seu sobrinho, José Ermírio de Moraes Neto, que preside a Votorantim Finanças. Perguntado por que não passa o bastão da CBA a um executivo, o empresário responde: "E eu, vou trabalhar aonde? Não quero me tornar um velho imprestável, sem nada para fazer. Tenho muito a contribuir e quero morrer de forma respeitável." A CBA é a sua casa, onde se sente bem, diz o que é preciso fazer, traça os planos de crescimento e aponta o que está certo e o que está errado. Antes visitava a fábrica -"a trabalho, não para passear" - dia sim, dia não. Agora, um pouco alquebrado pelos anos, enfrenta a viagem de mais de 100 km uma vez a cada 10 dias. Mas comparece à sede todos os dias, cedo. A seu ver, seria muito cômodo chegar às 11 horas da manhã na empresa ou ficar descansando no Guarujá. "Não é isso que quero; quero dar idéias", diz, lembrando que vem formando um time bom na empresa. "Amanhã, seu eu faltar, a CBA não pára um minuto." Antônio Ermírio relata com satisfação os planos que tem para a CBA até o fim da década. Ontem, ele deu partida ao fornos que vão ampliar a sua capacidade para 400 mil toneladas de alumínio por ano. Mas não pára por aí: já está preparando um terreno contíguo para receber novas salas de redução para o metal. Em 2007, vai atingir 470 mil. Incansável, já desenha algo mais para 2010. "Vamos a 580 mil ou 600 mil toneladas", diz. Os investimentos, de 2000 até 2007, vão superar US$ 1 bilhão, incluindo a construção de hidrelétricas. "Nossa meta é ter sempre, no mínimo, 60% de geração própria de energia", afirma. Segundo ele, é por isso que a CBA é competitiva globalmente e já detém expressiva fatia no mercado americano. Neste mês, a empresa está exportando 45% da produção, por conta da desaceleração da demanda interna. "O ideal seria ficar entre 25% e 30%, para sempre ter um pé no mercado externo." O cenário econômico, a seu ver, traz preocupação se não tiver o rumo corrigido. "Os juros? Há 56 anos grito contra as taxas elevadas. Sempre perdi", afirma. Observa que sempre se privilegiou o setor financeiro e que por isso, contra taxas abusivas, o grupo criou seu banco. "Mas não gosto dessa área." "Infelizmente, tomamos gosto pela coisa", ressalva-se o empresário sobre o elevado lucro do banco em 2004, maior que os R$ 716 milhões da CBA. "Embora seja grande não me dá satisfação; estamos analisando destinar parte do lucro do banco para negócios industriais."