Título: Desonestos são culpados por juros altos, diz Lula
Autor: Altamiro Silva Júnior
Fonte: Valor Econômico, 07/06/2005, Finanças, p. C1

A culpa pelo Brasil ter a maior taxa de juros do mundo não vem da política monetária do Banco Central, mas de consumidores mal-intencionados. Segundo o presidente da República, Luiz Inácio Lula da Silva, os juros são "tão altos" aqui porque as pessoas honestas pagam pelos desonestos. Lula participou ontem de manhã do lançamento do programa "Sistema Financeiro Inclusivo" da Caixa Econômica Federal, no Sesc Interlagos, zona sul de São Paulo. Segundo Lula, "quando vai se calcular a taxa de juros no Brasil, se coloca uma quantidade de pessoas que não vão pagar", disse. "Então os bancos já dão de barato que um determinado número de pessoas não vai pagar. E aí os honestos, que pagam, têm de pagar os juros daqueles que vão dar o cano." Na avaliação do presidente, isso é a "coisa mais absurda do mundo", pois ao invés de as pessoas honestas serem beneficiadas por serem boas pagadoras, elas acabam sendo prejudicadas. Durante seu discurso, que durou cerca de 15 minutos, Lula contou que conversou certa vez com o então presidente da Federação Brasileira de Bancos (Febraban), Gabriel Jorge Ferreira, que teria dito que se os bancos tivessem garantias, poderiam emprestar a juros mais baratos. Segundo Lula, foi aí que começaram as discussões que resultaram no crédito consignado, que tem desconto em folha de pagamento, e por isso, baixa possibilidade de calote. "Pode ser que tenha um ou outro caso (de calote), mas diminui substancialmente qualquer possibilidade de prejuízo." Para Lula, com esse tipo de crédito, as taxas caíram significativamente e os prazos aumentaram. Mas o presidente da República ainda vê possibilidade de maior redução nas taxas. "Ainda acho 2% (a taxa média cobrada pelo crédito consignado) muito caro", disse. Lula não fez menção ou qualquer comentário sobre às denúncias do deputado Roberto Jefferson (PTB/RJ) publicadas na imprensa. O início da cerimônia atrasou 45 minutos, mas não por culpa de Lula, que chegou no horário. O problema foi das caravanas de ônibus das costureiras, que vieram dos mais distantes bairros de São Paulo. Enquanto a cerimônia não começava, Lula foi até a platéia e distribuiu beijos, abraços e autógrafos. No final, após seu discurso, o presidente foi novamente até a platéia para nova sessão de autógrafos e fotos. Os presentes eram, em sua maioria, costureiras de São Paulo. Também compareceram alguns funcionários e gerentes da Caixa. Uma das costureiras, Inês Fernandes Alves, presidente da Associação Beneficente Santa Zita, organizou uma caravana de cinco ônibus de vários bairros da Zona Leste de São Paulo, entre eles Guaianazes e Itaquera. Segundo ela, muitas das pessoas que trouxe foram barradas na entrada do ginásio do Sesc, local do evento, por usarem chinelos. Mesmo com esse incidente, Inês se diz otimista com a nova linha de crédito da Caixa e destaca que sua associação, que representa 350 famílias carentes, já comprou duas máquinas de costura e está fazendo as fichas para adquirir mais duas. "Acho que esse crédito é muito bom e tem tudo para dar certo", disse. Em seu discurso, o presidente Lula disse que "é preciso tornar o crédito uma coisa muito acessível ao povo brasileiro". Para ele, com essa nova modalidade de crédito da Caixa, está sendo dado "o ponta-pé inicial que pode se transformar em uma coisa gigantesca". Para ele, se iniciativas como essa fossem feitas há mais tempo, o Brasil hoje poderia exportar mais produtos têxteis do que a China.