Título: Indústria contrata sem ampliar folha
Autor: Raquel Salgado
Fonte: Valor Econômico, 20/10/2004, Brasil, p. A-3

O emprego industrial cresceu em agosto pelo quarto mês consecutivo, com elevação de 0,9% sobre julho nos cálculos livres de influências sazonais, revela pesquisa do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE). Na comparação com agosto do ano passado, a alta é de 3,1%. Entre janeiro e agosto, o emprego na indústria acumula alta de 0,8%. O crescimento recente desse indicador, contudo, não é acompanhado pela recuperação da renda dos trabalhadores no mesmo período. Em agosto, a folha de pagamentos ficou estável. Nos últimos quatro meses, o emprego industrial acumula alta de 2,6%, período em que os gastos com a folha de salários recuaram 0,3%.

Para Johan Soza, economista da Rosenberg & Associados, a estabilidade na folha de pagamentos ocorre devido à entrada no mercado de trabalho de pessoas com menores salários. "Como o desemprego ainda é alto, o poder de barganha dos trabalhadores é restrito". À medida que o emprego se recupere de forma mais consistente, será possível observar salários maiores, diz. No acumulado do ano, o resultado é maior na folha de pagamentos que no total de emprego. A folha de pagamentos acumula alta de 9,1% no ano, o que recupera parte das perdas salariais de 2003, afirma Fábio Romão, da LCA Consultores. Em doze meses, a folha subiu 5,3%. Ele ressalta que os trabalhadores da indústria tiveram uma recomposição do poder aquisitivo acima da média das demais categorias. Só no ano passado, a renda dos brasileiros ficou 8,5% menor. Um dado positivo que a pesquisa de emprego do IBGE apresenta é o aumento de produtividade da indústria. A produção física está crescendo a um ritmo superior ao das horas trabalhadas. Este movimento ocorre com maior intensidade na indústria de transformação. "Há um crescimento real da produtividade, que acontece devido a um processo de modernização do parque industrial do país", afirma Júlio Sérgio Gomes de Almeida, diretor-executivo do Instituto de Estudos para o Desenvolvimento Industrial (Iedi). Com isso, justifica-se o bom desempenho do setor de bens de capital, que agora não só exporta como também atende às necessidades de investimento da demanda doméstica, explica. Além disso, as empresas perderam parte de sua margem de lucro e buscam recuperá-la por meio de uma produção mais aquecida, mas sem uma contratação muito acelerada de novos trabalhadores. Para os economistas do Bradesco, os ganhos de produtividade na indústria demonstram que as possibilidades de uma pressão inflacionária de demanda, "que ocorreria por aumento dos salários reais é menor do que a princípio se poderia imaginar". Dos 18 setores pesquisados pelo IBGE, 14 apresentaram expansão no emprego em agosto sobre o mesmo mês do ano passado. Máquinas e equipamentos foi o ramo com melhor resultado (16,9%), seguido por transportes (9,9%). Em contrapartida, vestuário retraiu-se 6,4% e produtos de metal, 6,5%. Por região, os destaque positivos ficaram com São Paulo e Minas Gerais, com altas de 1,9% e 5,6%, respectivamente. Apenas dois Estados tiveram dados negativos, o Rio de Janeiro e Pernambuco, ambos com uma retração de 1,3%.